Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

3.12.04

Antigo Testamento - Jonas: Simbologia e Verdade

I - INTRODUZINDO

Na Bíblia encontramos muitas estórias, que servem para nos ajudar a entender e explicar a existência humana muito mais em função daquilo que o homem realiza do que em função das realizações de alguma divindade. Temos registrado na bíblia a história de Jonas, profeta enviado a Nínive para pregar sua eminente destruição. Depois de andar na contramão do que lhe fora mandado, acaba não somente pregando a conversão para os ninivitas, mas tomando parte de um sentimento misto de desapontamento e derrota. Quando percebe que há uma mudança radical em todos os moradores da Cidade, onde, por ordem do rei até mesmo os irracionais devem prestar adoração a Deus, ele entra em uma crise que o remete para desejo ardente de destruição daquele povo. De forma contundente, questiona os motivos pelos quais Deus resolve poupar a cidade.
Este trabalho tem como finalidade demonstrar a relação entre o que é simbólico e o que é real nos textos bíblicos. Mesmo que existam lacunas, o propósito é mostrar que, diante de uma leitura com uma visão desassociada da fé, os textos não devem ser entendidos de forma literal, sem, contudo perder seu valor de fé.

II. A SIMBOLOGIA.

Jonas rebela-se contra a ordem dada por Deus de pregar aos ninivitas e decide empreender uma viagem de navio para Társis. Em meio à viagem, sobreveio uma tempestade que assusta a todos, exceto Jonas. Todos clamam por seus deuses enquanto Jonas dorme. Decide-se então lançar sorte sobre todos os ocupantes do navio e a sorte cai sobre o próprio Jonas que confirma o real motivo daquela tempestade. Lançado ao mar, Jonas é engolido por um grande peixe, permanecendo em suas entranhas por três dias e três noites. Jonas resolve clamar a Deus que ouve sua oração e ordena ao peixe que o vomite na areia da praia. Deus renova a ordem dada anteriormente a Jonas e o envia definitivamente para Nínive.
Chegando à cidade, Jonas prega contra ela e prediz que em quarenta dias a cidade seria subvertida. O arrependimento é instantâneo fazendo com que a plebe, a monarquia e até mesmo os animais fizessem jejuns e clamassem a Deus por perdão. A ordem é seguida por todos e Deus se arrepende de ter pensado em destruir Nínive.
Neste momento, qualquer pessoa pensaria que Jonas ficaria feliz por ter conseguido fazer a cidade entender sua mensagem. Entretanto, ele questiona com Deus e chega a pedir que se lhe tirasse a vida. Jonas sai da cidade, faz uma cabana e senta-se para ver o que aconteceria a cidade. Deus intervém mais uma vez e faz crescer uma aboboreira que alivia o enfado sentido por Jonas e isto o deixa muito alegre. Nova intervenção de Deus e um verme destrói a aboboreira. Por causa disto, Jonas deseja novamente a morte. Deus questiona com ele dizendo que não existindo trabalho por parte de Jonas, existia, contudo a revolta pela morte da aboboreira e se era assim o seu comportamento, por que ele questionava a compaixão divina por Nínive, que demonstrava ser um povo que mal sabia distinguir a mão direita da esquerda.

III. A VERDADE

Em seu conteúdo, a saga de Jonas passa por um processo que nos remete ao desejo de suplantar obstáculos internos e renascer novamente. Muito mais do que crer numa história altamente fantástica, com tempestades, grandes peixes, arvores que nascem crescem e morrem num período curtíssimo, o leitor precisa entender o que ela representa quando é lida hoje. Sem querer passar pelo campo da pesquisa arqueológica, onde poderíamos apontar algumas tensões no texto, relacionado com a cidade, geografia, hidrografia, basta a visão de um homem engolido por um peixe e vomitado na praia para que se perceba que essa não é a principal mensagem do texto. O que é simbólico serve para encaminhar o leitor para o real valor do texto aplicado na vida de quem o lê. Não é possível postular a crença na fé religiosa, neste caso a fé em um Deus que realiza feitos fantásticos a não ser através do símbolo.
Há um processo de suplantação de obstáculos e renascimento. Este processo é a realidade de todos os homens, que, desejosos de progresso encaram os obstáculos do dia a dia e na possibilidade de não serem competentes o suficiente para suplantá-los, clamam a uma divindade que vem em seu socorro. É a realidade atual do irreal vivido por Jonas. Grandes peixes querem a todo tempo engolir pequenos homens. Pequenos homens sempre clamam por auxílio. Auxílio sempre vem de forma fantástica. É na carência de Jonas que clama em grande angústia que se revela a própria angústia dos homens. Os homens não precisam pregar a destruição de Nínive hoje, mas tal como Jonas, precisam eles próprios se converter de seus caminhos egoístas. O primeiro homem a quem Deus queria trazer o arrependimento era o próprio Jonas. Era ele quem deveria ser encaminhado para uma vida de mudança radical. Na total inexistência de provas de sua realidade, o homem é confrontado com a seguinte verdade: Jonas precisa de transformação radical, mas Jonas não existe. A transformação radical, essa sim existe e precisa acontecer, então, pensa o homem, eu sou o “Jonas real” no lugar daquele que não é real.
O conto nos mostra como a princípio Jonas, assim como todos os homens é um mero escravo. Ele se escraviza, primeiramente, diante de seu próprio prazer, quando evita a árdua tarefa de pregar em Nínive. Em uma segunda vez, quando deseja ardentemente a destruição daquela nação. A realidade do homem é, em certo sentido, uma realidade de escravidão. Vive-se uma vida de preconceitos e de padrões preestabelecidos que excluem todos os que fogem desses padrões. Assim como o padrão de Jonas para Nínive era destruição em quarenta dias, o padrão do homem é a destruição total da liberdade do outro para a satisfação da própria vontade de quem deseja a destruição.

IV – CONCLUSÃO

Existem duas visões sobre a interpretação do livro do profeta Jonas que merecem, a título de conclusão, ser aqui comentados. Há aqueles que acreditam na narrativa de Jonas como sendo a mais pura expressão da verdade, usando como justificativa a idéia de que se está na bíblia é verdade. Esta argumentação é oriunda de uma fé fundamentalista que não suporta passar por uma crítica histórico literária. Um outro extremo é determinado por pessoas que simplesmente colocam o texto de Jonas como um conto imaginário que não merece nenhuma credibilidade. Esta argumentação é pobre, pois não percebe o real sentido do texto. Criticar um texto tal como o de Jonas e dizer que o mesmo não pode ser entendido como literal, não significa destruir a fé de quem quer que seja. Fé que não resiste a uma crítica é fé que nunca existiu. Numa leitura crítica, sem, contudo transformar a fé em algo descartável, encontramos em Jonas a verdade de que não são os valores dos homens os mais importantes para a divindade e muitas vezes, a divindade escolhe aqueles a quem o homem reputa por inadequados para receber dela suas benesses. Outra verdade refere-se ao fato de que mesmo que se tente fugir da divindade, em algum momento o homem necessitará clamar por ela, e, mesmo que o estado do homem seja de desagravo para com a divindade ela o socorrerá. Ler Jonas excluindo essas verdades é fazer uma leitura pobre e a maneira como Deus fez chegar até nós todas as verdades foi através da simbologia contida no Livro.

20.11.04

Antigo Testamento - Escatologia e apocalíptica

Há muita coisa na literatura apocalíptica que funciona de forma muito semelhante à literatura profética. Mas há também muitas características que são próprias da literatura sapiencial. Há teóricos que dizem que a literatura apocalíptica é um desdobramento da literatura profética. Assim como eu tenho na literatura contemporânea uma literatura moderna e uma literatura pós-moderna, ou seja, uma é conseqüência, continuidade da outra, embora sejam coisas diferentes.

Há que se perceber três pontos importantes

1ª - Movimento apocalíptico

2ª - Literatura apocalíptica

3ª - Os apocalípticos

Estes três estão muito próximos uns dos outros, ao mesmo tempo em que são diferentes uns dos outros.

O movimento apocalíptico é um movimento sócio-político-economico-religioso, como qualquer outro movimento social. Assim como temos ao longo da história movimentos de direita, de esquerda, de operários, de sindicados, de bandeirantes, de cruzadas, que no fundo são acontecimentos históricos, mas que não se consegue precisar uma data e um lugar. O que pode se dizer sobre datas referente ao movimento apocalíptico é que ele começou por volta do séc. 2 a.C e se estendeu até o séc. 2 d.C. Seria o que chamamos de período intertestamentário. No movimento apocalíptico, vamos determinar algumas causas sociais que provocaram o surgimento deste movimento. Por exemplo, a falência das instituições religiosas oficiais de Israel. Israel tem basicamente três grandes garantias religiosas ao longo dos séculos que antecederam a época cristã:

1ª - O templo - Houve em Israel muito trabalho relacionado com a questão do templo. Isto pode ser visto nas obras de Esdras, Neemias, Ageu, Malaquias, Zacarias, um pouco de Naum. Estas obras, assim como passagens inteiras em Levíticos, influenciaram muito em Israel um cuidado todo especial em função da questão do tempo. Percebe-se nessas obras uma religião centrada no templo de Jerusalém. O templo de Jerusalém se tornou uma grande instituição em Israel. Mal comparando, temos, no mundo moderno a figura do Papa. Uma decisão do Papa em Roma traz uma repercussão para o catolicismo no mundo inteiro. Quando ocorre uma crise neste templo, através de estrangeiros que profanaram o templo, como pode ser visto no livro de Daniel – o abominável da desolação – Quando o templo já não é suficientemente puro para a religião de Israel, eles começam a olhar para fora do templo. Uma dessas formas de “olhar para fora” do templo é a literatura apocalíptica.

2ª - A Monarquia – Houve também uma falência muito grande nesta instituição, que está muito próxima do templo, até mesmo fisicamente. A figura do rei, a figura do messias que se senta sobre o trono, essas figuras foram coisas que com o passar dos tempos se desgastaram historicamente. Vários messias, a partir de David, sentaram-se no trono de Israel, no entanto, na época do período anterior ao novo testamento, cerca de 2 ou 3 séculos antes, há uma idéia na cabeça da população de que um rei humano, histórico, não será suficientemente poderoso para restaurar a sorte, a felicidade, a benção de Israel. Há aqui também um olhar para fora da monarquia. Surge a idéia do messias, o filho do homem, o filho de Deus, que restauraria Israel. Com a falência da monarquia, o movimento apocalíptico começa a procurar um novo messias. Acredita-se que os essênios eram na verdade um grupo de Judeus dissidentes do templo de Jerusalém que foram para o deserto e que acreditavam que do meio deles surgiria o messias que traria a restauração de Israel. Por essa época, Israel era uma caldeira fervente e movimentos como os dos essênios surgiram aos montes em Israel. Entretanto, eles não tinham força militar e política para um enfrentamento com os romanos. Eles enfrentaram com a arma mais forte que eles possuíam, que era a dimensão religiosa.

Os movimentos religiosos, cristãos e não cristãos, da atualidade só existem por que as instituições tradicionais do ocidente fracassaram. Estas instituições tradicionais ainda existem, mas elas não respondem mais satisfatoriamente à população, à cultura, ao mundo moderno. Por exemplo, o catolicismo, de cortes ainda medievais e o protestantismo, que é umas instituições tipicamente modernas, européias, já não respondem mais às determinadas indagações como respondiam a trezentos ou quatrocentos anos atrás.

3ª - Os apocalípticos – O movimento apocalíptico surge da falência das instituições religiosas em Israel. Ele é um movimento social e não institucional. Não há como encontrar evidências físicas deste movimento, como por exemplo, templos, altares, etc. É um movimento de idéias e a grande produção deste movimento que ficou foi a literatura. Dessa literatura apocalíptica surgiram os apocalípticos. Temos o apocalipse no novo testamento, no antigo testamento, no livro de Daniel, e também e muito mais fora da bíblia. Há literatura que só se conhece por citações em outras literaturas da época, que visivelmente foram influenciadas pelas técnicas literárias apocalípticas. Assim como hoje, quando estudamos literatura, existe literatura que se encaixa no modernismo, romantismo, barroco, arcadismo, existe uma literatura em Israel que se encaixa como profética outra que se encaixa como apocalíptica outra que se encaixa como sapiencial.

Há uma diferença entre apocalíptico e escatológico. Apocalíptico é um gênero literário, essencialmente simbólico e escatológico é um tema, uma idéia teológica.

O texto apocalíptico não é a transcrição do que foi dito no passado para um grupo de pessoas reunidas. Ele é uma peça literária que foi escrita por uma pessoa, que para dar sentido ao todo, usa elementos e técnicas literárias. O escritor não reproduziu a fala de alguém, mas pensou sistematicamente sobre o que estava escrevendo.

Encontramos na pesquisa escatológica dos textos proféticos os seguintes temas: Intervenção de Javé, convocação das nações, vinda do inimigo à terra de Israel, resto de Israel, Juízo divino, castigo do inimigo, fenômenos cósmicos, nova ordem cósmica.

A grande característica da literatura apocalíptica é o fato de quem escreve não escreve por acaso. Escreve o que sonhou e o que Deus ditou. O autor do texto não é quem escreve, mas quem o manda escrever. Na literatura sapiencial o autor escreve o que ele mesmo está dizendo. Na legislação é Deus quem revela, mas é o legislador quem escreve. Na literatura apocalíptica, o escritor é um emissário quase que passivo. Isto pode ser observado quando o escritor faz perguntas ou dá explicações sobre o que está sendo dito, como por exemplo no apocalipse de João.

Precisamos entender três momentos nos escritos bíblicos. Primeiro o profetismo, que trata de assuntos relacionados com a monarquia, o culto, o pecado, impurezas. Num segundo momento temos as profecias escatológicas (apocalíptica), onde há determinadas partes dos textos dos profetas que, ainda que não sejam apocalípticos, trazem assuntos escatológicos e num terceiro momento temos a apocalíptica, onde o assunto é puramente escatológico.

11.11.04

Profissionalização do Louvor: a receita para a crise.

Este texto não faz parte de nenhuma matéria. São algumas considerações minhas a respeito da profisionalização da adoração à Deus.

Nada é tão discutido e tão discutível nas nossas comunidades como o chamado "ministério de louvor". Há uma profissionalização do termo louvor e isto é preocupante. Adoração à Deus é algo tão importante que não deve ser tratado como um objeto de troca. Em algumas comunidades, o líder de louvor tem mais espaço na celebração do que qualquer outra pessoa.

Considerando que cada povo tem seu idioma, podemos entender que a adoração é o idioma falado por aqueles que fazem parte do Reino de Deus. Nesse sentido, nós brasileiros falamos o idioma chamado português e não precisamos de nenhuma pessoa para sempre dizer a forma pela qual devemos falar. Falamos por prática e por imitação. Por que, então, precisamos de uma pessoa que nos determine: fale o idioma do reino dessa forma, ou adore dessa forma.

Já no novo nascimento experimentamos uma característica que acompanha quem nasceu de novo: amamos e louvamos a Deus, independente até da idéia que fazemos dele. A medida em que crescemos espiritualmente, experimentamos uma dimensão mais sólida da adoração. Passamos de uma adoração assemelhada com aquela contemplação que temos dos nossos pais, quando somos crianças,para uma adoração mais profunda, "adulta". Acho que Paulo quis dizer um pouco disso quando falou sobre a forma de prestar culto a Deus. Crianças precisam ser conduzidas de um ponto a outro por uma pessoa mais experiente. Adultos caminham sozinhos. Sendo assim, qual é realmente o papel de um ministro de louvor, se já sabemos caminhar/adorar como adultos?

Vivemos um momento na história da igreja muito parecido com o momento do jovem rico dos tempos de Jesus. Sabemos tudo sobre a nossa religião. Somos grandes religiosos, mas quando se trata de uma entrega, de uma adoração incondicional, falta-nos alguma coisa. E exatamente como o jovem rico, compreendemos o que falta, mas não queremos admitir essa falta e não seguimos o mestre da forma que ele propõe. Parafraseando Cristo poderíamos dizer que sabemos que não precisamos de muletas de adoração, mas não temos coragem de caminhar sem elas. Acabamos, então, por confundir tradição com adoração.

Essa adoração fabricada por ministros de louvor, “aleija” nossas comunidades no sentido em que temos que estar sempre na última moda da adoração. Joguem-se no chão, se esta for a moda. Pulem 2 metros de altura, se esta for a moda. Gargalhem sem parar se esta for a moda. Siga a moda, mesmo que isso signifique prestar uma adoração “aleijada”

Nossa adoração está em crise e continuará assim até que entendamos que não temos a menor necessidade de um condutor de louvores para fazer com que nosso ser dedique à Deus aquilo que lhe é devido. Deus e mais ninguém é a razão de nossa adoração.

2.11.04

Filosofia - Platão, Sócrates e os Sofistas

Nos séculos V e IV, Atenas é o centro da vida cultural da Grécia. Surge a tragédia, a democracia, o novo padrão educacional, a nova organização social e política sem a dominação da aristocracia. Política, nesta época era completamente diferente do que vemos hoje. Discutiam-se somente as questões ligadas à cidade que era o espaço das relações humanas. A excelência política assume o lugar da excelência heróica. Substituindo os poetas cantores, surgem os professores de retórica que ensinam por dinheiro. São chamados de Sofistas e defendem que o homem é a referencia de todos os valores e que toda verdade é subjetiva e que não existe critério absoluto de verdade. São inimigos de Sócrates que acredita, assim como Platão e Aristóteles, ser a verdade absoluta.
A preocupação deste período é colocar a questão do ser do homem e não do ser das cosas. Sócrates questiona sobre bem e mal, justiça, verdade. Sócrates considera que o homem sábio é bom. Saber é ser bom. Só se faz o mal por não conhecer o Bem. Em contrapartida os sofistas, partindo da premissa “o homem é a medida de todas as coisas”, ensinam que não existe verdade e que não podemos conhecer nada com certeza usando a retórica como instrumento indispensável nos debates.
Sócrates se confronta com os sofistas nas praças através de dois métodos criados por ele.
A ironia e a maiêutica.
Através da expressão “sei que nada sei”, Sócrates tentava derrubar as certezas de seus opositores. A ironia era um dizer que dizia o contrário do que se queria dizer. Quando ele diz “eu não sei nada” e o diz a pessoas que sabem que ele sabe e muito, ele está querendo dizer: se vocês sabem que eu sei muito e eu digo que não sei nada, imagino o que vocês sabem!
A maieutica era o método, mediante a perguntas e respostas, cada um pode tirar de si o conhecimento. Pressupõe-se através deste método que a alma é eterna e imortal e que sendo eterna traz consigo todo o conhecimento. Nesse sentido, conhecer é somente lembrar do que já existe na alma.
Platão (430-350) era ateniense e aluno de Sócrates. Na sua época, Atenas estava repleta de intelectuais que pra lá convergiam em busca do conhecimento. Antes desse período, a apalavra era sagrada. No período socrático a palavra deixa de ser uma exclusividade da religião e dos reis. Isso acontece com o advento da democracia. Em função disso, torna-se possível debater, fazer uso da palavra. Através da Filosofia, aprende-se a pensar e argumentar. Era comum que nos debates nas praças existissem conflitos. Os Sofistas trazem a subjetividade da verdade. Platão surge nesse momento querendo resolver a questão da verdade. Para Platão, a verdade é absoluta e a Filosofia é a busca da verdade pela intelectualidade.
Chamada de Idealismo, a Filosofia Platônica considera a idéia como o princípio da realidade. A sociedade atual é materialista no sentido que o princípio do materialismo não é a idéia, mas a matéria. Para Platão, a idéia de uma coisa é a realidade dessa coisa. A idéia é uma abstração. É a essência e é invisível. Quando entendemos alguma coisa é porque idealizamos essa coisa. A idéia é universal, conceitual e abstrata. É única e imutável. É eterna, pois reside na alma.
As coisas têm aparência e essência. A essência de alguma coisa é o que esta coisa é e não a aparência. A aparência é a sombra e é ilusória sempre.

31.10.04

Filosofia - O rompimento com o mito. A Arqué e o mundo da natureza

Historicamente a cultura e a filosofia grega são compreendidas em três períodos:
Período homérico – A cultura é praticamente construída em cima dos textos de Homero, Ilíada e Odisséia, e de Hesíodo, Teogonias. É a época da explicação mítica.
Período arcaico ou pré-socrático – Surge os primeiros sábios filósofos que lentamente rompem com a explicação mítica. Todos os filósofos deste período estão preocupados e explicar a natureza.
Período Clássico ou socrático – É o período do desenvolvimento das idéias em todos os campos: filosofia, arte, política, literatura, ciência. São representantes desse período, Péricles, Sófocles, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Período helênico ou greco-romano – Os romanos dominam a cultura grega, fazendo de Alexandria, no Egito o centro da cultura. Surge na Grécia e em Roma uma pluralidade de filosofias moralistas.

Quando os gregos abandonam a explicação mítica, os primeiros pensadores ficam espantados com a multiplicidade dos elementos da natureza e começam a se perguntar sobre eles. Neste período, conhecido como período cosmológico, devido ao fato de os filósofos considerarem a natureza com fonte única dessa multiplicidade, busca pelo princípio de todas as coisas – a arque. A arque designa aquilo de onde alguma coisa vem e surge. É a unidade que explica a multiplicidade.
Para Tales de Mileto, a arque é a água. Para Pitágoras, eram os números. Parmênides considera como arque, uma unidade essencial: o ser. Heráclito chama o fogo de arque. Como o fogo o mundo está em permanente movimento e transformação. Tudo flui e muda. Para Demócrito e os atomistas a arque é o átomo – partes indivisíveis.
Nesse momento é a Filosofia que faz compreender tudo o que existe, revelando o que se oculta fazendo com que a realidade mostre-se acima da aparência. Aos poucos, os filósofos tomam palavras de significado imediato e mítico e as utilizam com o sentido cada vez mais abstrato. Tentam chegar, desta forma à explicação racional da totalidade e da realidade, sem recorrer ao mito.

Filosofia - Diferenças entre Filosofia, Teologia e Ciência

Antes de existir qualquer conhecimento, seja em forma de ciência ou de qualquer outra expressão de conhecimento, existia a Filosofia. Nesse sentido, ela é a origem de toda ciência, mas não é ciência. Isto não subtrai dela suas principais características: Conceituação de idéias, raciocínio lógico, capacidade analítica e crítica. A filosofia se preocupa com os fundamentos e princípios, já ciência se ocupa com os objetos empíricos. A Filosofia não tem objetos determinados e qualquer tema pode ser objetos da reflexão filosófica. Quanto eu penso em Biologia, por exemplo, eu determino, delimito seu objeto à vida e ao estudo dela. A Filosofia está em busca da verdade, mas não uma verdade que pode ser provada, como no caso da ciência, que observa, prova e demonstra a verdade proposta. Não uma verdade, como a verdade Teológica que é revelada, mas não é provada. Quando busca a verdade a Filosofia não está preocupada em encontrá-la, mas em argumentar e fundamentar essa busca, mesmo que a verdade não seja encontrada. Filosofia é um conhecimento com fundamentos e reflexões, nas que não tem objetos e não tem a verdade. Ciência é um conhecimento que tem objetos e os põe a prova para demonstrar, através da experimentação a verdade do objeto em si. Teologia é um conhecimento que tem reflexões, mas o objeto é a experiência da fé, e a verdade não é provada, e sim revelada.

Antigo Testamento - Profetismo II

Os livros do profetismo contêm palavras de Deus e dos profetas. Além disso encontra-se me forma de narrativa parte da biografia (fictícia) do profeta. Estes relatos narrativos, geralmente colocados no início do profeta, estão a serviço do anuncio da palavra. Legitima-se o assunto através destas narrações, bem como do relato de vocações, visões e audições. A história de suas realizações destaca e concretiza a mensagem anunciada. Existe uma forma básica do discurso profético onde se destaca a autocompreensão dos profetas: a palavra justificada de juízo ou o anúncio justificado de condenação.

1 – O profeta se apresenta como mensageiro enviado de javé, cuja função oficial é anunciar a palavra de Deus que o próprio Javé lhe deu.
2 – O dito do mensageiro situa-se entre a crítica do presente e uma declaração para sobre o futuro. Sobre o futuro, a palavra do profeta está totalmente na dimensão de Javé e sobre o presente, podemos entender que havia uma “produção própria” onde o profeta, utilizando seu carisma fornece fundamentação da verdade da palavra de Deus. Olhando para esta forma básica temos os seguintes elementos da autocompreensão do profeta:

A – Ele é o portador de palavras concretas de Deus e precisa comunicá-la sem perguntas ou sem contemporizá-las.
B – De tudo aquilo que o profeta recebe, ele tem a possibilidade da análise contrária e da critica do presente.
C – O profeta leva a palavra às instancias que gerem publicidade para a palavra (Rei, dirigentes, sacerdotes e também ao povo).
D – O profeta é crítico, visionário e “protestante” e sua única legitimação é sua experiência direta com Deus.

Profetismo “verdadeiro” e “falso”

A comunicação das palavras de Javé de forma atual, concreta e sem contemporizar, torna o profetismo legítimo até para criticar o que é considerado sagrado. Em função disso, os profetas “escriturísticos” se opuseram “aos profetas”, que era uma instituição profética do templo dou da corte que também diziam ter recebido as palavras diretamente de Deus. Sob essa óptica foi desenvolvido 5 critérios para revelar o “verdadeiro” profetismo:

1 – A salvação não é uma certeza. Havia um discurso crítico e provocante. (cf Mq. 2.11)
2 – Não há arrogância e autoconfiança na apresentação do profeta (cf. Jr. 27s)
3 –Verdadeiros profetas não são “assalariados”, sendo, portanto independentes e livres (cf. Am. 7.10-17).
4 –A vida do profeta condiz com a mensagem (cf. Jr. 23.14).
5 – Há uma “voz vocacionada” e não uma procura pela atividade de profeta. Muitas vezes, ele o é contra sua própria vontade (cf. Is. 6).

Profetismo fora de Israel

Neemias 22-24 fala do “vidente” Bileâm da Transjordânia, conhecido pelas inscrições encontradas nos séc. IX ou VIII a.C. Temos, também, o relato da luta de Elias contra 450 profetas dos baalim (1Rs. 18.18). Jeremias discute com os acompanhantes proféticos de delegações de estrangeiros que visitaram Israel (Jr. 27.9). A visão comparativa entre os profetismo do antigo oriente e de Israel é a seguinte:

1 – Há muitos pontos em comum entre o profetismo do mundo envolvente e o da corte e do templo de Israel. Os textos do antigo Oriente mostram de forma historicamente mais adequada o “profetismo de salvação” que a Bíblia hebraica menciona de forma marginal e polêmica.
2 – Diante do pano de fundo do profetismo do antigo Oriente dão aos profetas de oposição em Israel um perfil ainda mais marcante, sobretudo no que se refere aos questionamentos sociais e éticos. Em parte alguma os profetas do antigo Oriente se preocupam com a sorte do povo, como acontecia em Israel.
3 – Mesmo tendo sido colecionadas e arquivadas, as palavras dos profetas do antigo Oriente não foram o ponto de partida da formação de uma tradição que fosse comparável à “interpretação profética dos profetas”.

Relevância do profetismo

O profetismo dá o corretivo necessário às instituições políticas e cultuais. Há registros em Dt. 17,8-18,22 onde se percebe a idéia que o carisma profético é aquele poder acima do reinado, juízes e sacerdotes. Diante dos profetas, em caso de conflito, estes três poderes precisam se legitimar. Por serem críticos e visionários, os profetas de Israel revelam onde e por que Israel se afastou de sua missão e proclamam um novo mundo futuro, que supera a realidade existente. Eles criticam, observando a história passada, a história presente combatendo a fé errônea de que tudo precisa continuar como está. Projetam “sonhos divinos de um futuro, que trará perfeição à história a despeito de toda evidência contrária”. Relativizam o poder dos poderosos e a fraqueza dos impotentes. Os profetas “foram e continuam sendo a necessária provocação de Deus em todas as esferas da vida social e religiosa”.

23.10.04

Antigo Testamento - Profetismo I

O termo profeta recebeu no ocidente, um valor muito menor do que o era na sua originalidade. Há uma crença de que profeta é aquele que prediz o futuro. Esta idéia, infelizmente foi também difundida pela pregação cristã que sempre mostrou os profetas como homens a quem Deus enviou para anunciar o Messias. Percebe-se com muita clareza que esta função ocidentalizada e cristã dos profetas não é, de fato uma realidade, quando, ao examinarmos os textos da profecia, encontrarmos poucos textos messiânicos. A foco principal dos textos proféticos são os testemunhos sobre Deus. Até mesmo pela expressão hebraica para profeta (nabi - Chamador chamado), temos a idéia do que realmente era um profeta. Ainda na sua designação grega (prophétes - porta-voz da divindade perante o povo), não temos a idéia simplória de que profeta é aquele que prevê o futuro. Os livros do profetismo são uma seleção do profetismo de Israel em dois sentidos:

1º - Nesses livros estão preservadas tão-somente palavras dos personagens chamados de “profetas escriturísticos” e a continuação escrita de suas palavras. Historicamente isto limita o tempo do profetismo ao tempo em torno das duas grandes crises existenciais de Israel. Os livros dos profetas escriturísticos que trazem o seu nome mostram um quadro histórico muito limitado, por conter somente uma seleção de suas palavras e estas na forma de múltiplas revisões continuadas.

2º - Através dos livros do profetismo e da história, conclui-se que houve concomitantemente aos profetas escriturísticos, outros profetas que afirmavam estar falando em nome de Javé. Esses tinham um número maior e eram melhor aceitos por seus contemporâneos. Eram essencialmente "profetas de salvação" e serviam à estabilização religiosa do Estado e anunciavam o apoio libertador de Javé, ao passo que os "escriturísticos" evidenciavam-se como críticos públicos e como anunciantes do juízo e da destruição. A história deu razão aos profetas da desgraça e não aos profetas de salvação, portanto, suas palavras se tornaram o cerne do profetismo "canônico".

Podemos perceber que ouve uma diversidade de atuação profética em Israel pela multiplicidade de termos que a bíblia hebraica designa “profetas”, bem como do fato que, por exemplo, Amós recusou-se a ser chamado de nabi (comunicador vocacionado da palavra de Deus = profeta), nem ben-nabi (filho de profeta = membro de uma irmandade profética), mas não se opôs a ser chamado de hozeh (vidente). Outro designativo antigo é “Homem de Deus” que sugere poder miraculoso, singularmente o carisma da cura e da divinação (indagação a Deus). Outros termos como ro’eh e hozeh (vidente/clarividente) também são usados, pelos quais se destaca a recepção da palavra de Deus que se processa por meio da visão e audição.

Podemos observar as seguintes diferenciações - grosso modo - em função da atuação dos profetas de Israel. :

1º - Profetas de congregações ou irmandade – Eram chamados de “filhos de profetas de profetas” e formavam comunidades de profetas em torno de Samuel, Elias e Eliseu. Seu contato com a divindade é por meio do êxtase (musica e dança), atuam como curandeiros, transmitem oráculos de Deus, são conselheiros populares, milagreiros e causadores de instabilidade política. Vivem como pastores e agricultores, porém se reúnem para “sessões” profética com seu mestre na “escola de profetas”.

2º - Profetas do templo – Tinham como função principal interceder e anunciar a partir de Deus no contexto do culto. São subordinados aos sacerdotes e são funcionários do Rei e por isso são criticados.

3º - Profetas da corte – Estavam a serviço do rei e de sua política e tinham a função de assegurar a paz diante das situações críticas e afastar as desgraças.

4º - Profetas independentes, de oposição – Em termos de número foi o grupo menor e menos respeitado no tempo de sua atuação. Quanto à história de sua influência, constituem o grupo mais importante. Com exceção de Hab, Na e Jl, todos os profetas escriturísticos fazem parte desse grupo. São os “videntes” dos primórdios. Sua biografia está oculta nos livros que receberam seus nomes. É cada vez mais duvidosos que se consiga resgatar as palavras “autênticas” desses profetas. São oriundos de ambientes sociais distintos (Amós e Miquéias: agricultores; Isaías: professor de sabedoria na academia de Jerusalém; Jeremias e Ezequiel: filhos de renomadas famílias de sacerdotes com perspectivas de carreira sacerdotal). Foram arrancados desse ambiente por sua experiência de vocação. Apresentam-se onde as instituições apodrecem. Devem ser incluídos num contexto sociológico mais nos grupos periféricos que nos centrais. Isaías, “não pode andar o caminho desse povo”; Amós é estrangeiro e defende a causa dos pobres; Oséias recebe sua formação profética na vida familiar; Miquéias vem de uma cidadezinha interiorana contra os poderes da capital; Jeremias vive solitário e é até perseguido pelos mais próximos. Nesse sentido a s história do profetismo clássico é uma história de martírios.

5º - Profetas literários (interpretação profética de profetas) – O que se quer dizer do texto entre parênteses é que nenhum livro de profeta é da autoria do profeta, cujo nome lhe foi dado. Parece mais correto entender que houve um círculo de profetas que fizeram uma interpretação profética dos discursos dos profetas que deram nomes aos livros, discursos esses que eram palavras breves e isoladas. É fácil de entender isso quando pensamos na possibilidade de um profeta ter dito, por exemplo “quem corre cansa”, palavra curta e isolada, e que, posteriormente, foi feita uma releitura e estabelecida em textos, parecidos com: “houve um homem, chamado por Deus, da terra tal, filho de fulano, que recebeu da parte de Deus a mensagem “quem corre cansa” e que transmitiu ao seu povo. Não obstante estabelecer este texto, em outra época o mesmo era reeditado segundo a visão do momento da reedição até que chegasse ao que conhecemos hoje como livro. Originalmente, o profetismo tinha características de juízo. Grande parte dos livros de profetas é composto sob a ótica salvífico-escatológico, seja mostrando a necessidade de arrependimento, seja anunciando a salvação realizada por meio do juizo. Está presente na maioria dos livros proféticos o discurso da desgraça-salvação.

Até a próxima...

27.9.04

Filosofia - Finalidade. Alienação e Ideologia

A Filosofia tem o interesse de romper com círculos fechados de condicionamentos aprisionadores. Mesmo sendo um saber antigo, está sempre recomeçando. Isso acontece, porque mesmo que eu me inspire em pensadores do passado, tenho a liberdade de repensar o que já foi pensado. O pensamento se torna grande, quando pode ser repensado e quando nunca se esgota. Somos incentivados por ela a criar um senso crítico, autônomo de forma a não nos deixar presos à experiência coletiva.
A consciência ingênua, aceita passivamente a realidade como lhe é apresentada. É conformista, adaptando-se sem fazer perguntas. A Filosofia nos capacita em uma consciência crítica, onde seja possível dialogar com todos os níveis da vida para vivê-la plenamente.

Alienação é um processo pelo qual uma pessoa vive para o outro e para a realidade do outro. Perde-se a consciência de si mesmo e da sua realidade e vive-se em função do outro e de outra realidade. Existe a alienação religiosa que surgiu da necessidade do homem de explicar a origem e a finalidade do mundo e da vida. Como não consegue explicar, projeta um ser superior e atribui a este mesmo ser a origem de tudo. O homem não se conhece como agente da história. Ele desconhece que é ele mesmo que cria a sua realidade, sociedade, política e divisão social do trabalho. Esse desconhecimento chama-se alienação social. Marx define a alienação econômica como exploração do trabalho. O trabalhador produz, mas não recebe o valor merecido pela sua produção. O trabalhador é, dessa forma, desumanizado e transformado na condição de produto. O homem se aliena da sua humanidade quando é transformado pelas relações de produção em mercadoria.

Ao escrever “Ideologia, eu quero uma pra viver”, o compositor comete um erro no sentido de que não existe a possibilidade de viver sem ideologia. Talvez tivesse vontade de dizer “...eu quero outra”. A Ideologia impõe valores e padrões, através de idéias sistematizadas e relacionadas entre si. Serve como justificativa para a realidade como ela se apresenta. Faz com que a diferença socioeconômica seja encarada como normal. Ao se conformar com sua situação de sujeição, o homem se aliena da condição de sujeito de seu destino.

22.9.04

Psicologia - O surgimento da noção do indivíduo, da razão e da loucura

Em um mundo cosmocêntrico, como era o mundo antigo, o homem não faz questão de si próprio. A pergunta “Quem sou eu”?” não tem sentido. As pessoas compreendem-se e compreendem a própria cultura inseridas no cosmos que as cerca. Vive-se de acordo com a natureza, num mundo teocêntrico onde a idéia de linearidade não se coloca.
No mundo moderno, antropocêntrico, a vontade humana e não os poderes da natureza é que determinam o destino do homem. Há uma visão histórica. A natureza torna-se objeto, o homem, sujeito. Em lugar de uma razão contemplativa, orientada desinteressadamente para a busca da verdade, onde busca-se o conhecimento pelo prazer de conhecer, aparece uma razão instrumental onde à mera observação, acrescenta-se um procedimento ativo onde conhecer é controlar e dominar a natureza e os seres humanos. Atormentar a natureza e fazê-la reagir a condições artificiais, criadas pelo homem. Atormentar a natureza é conhecer seus segredos para dominá-la e transformá-la. A ciência se torna instrumental deixando de ser uma forma de aceso aos conhecimentos verdadeiros e se tornando um instrumento de dominação e exploração. Segundo o pensamento de Bacon, não basta a observação pura e simples. É importante também que haja regras metodológicas para a prática científica. Para Descartes, a dúvida metódica é o procedimento fundamental: desconfiar de tudo.
Esboça-se com mais clareza: 1. o surgimento da razão instrumental, 2. o surgimento da noção de indivíduo, 3. a noção da consciência/razão, como critério de verdade. Nesse contexto surge a idéia da loucura (no início do séc. XVII). Até então, o louco era o doente, o diferente. Nesse sentido, a loucura não atinge o pensamento, pois são excludentes. O louco não tem a capacidade de pensar, ou seja, é um animal que perdeu a racionalidade. Identificado com o animal, o louco é tratado com técnicas utilizadas para domar animais. Busca-se por uma tentativa de apontar se o indivíduo era ou não louco, sem se preocupar com as causas. A cura não é, nesse caso, interessante, mas o confinamento, o controle disciplinar do indivíduo.
No século XIX a Psiquiatria era capaz de identificar a loucura, mas não sabia o que era. Moreu de Tours (Psiquiatra Francês) faz experimentos com haxixe e estabelece a idéia de que a loucura pode ser produzida experimentalmente. Mais do que isso, ele diz que nem é preciso produzir artificialmente a loucura: é possível encontrá-la em nós cada vez que sonhamos. “O louco é um sonhador acordado”. “o sonho é a loucura do indivíduo adormecido”.

21.9.04

A que pontos chegamos!

Obs: Este texto não faz parte de nenhuma matéria. São considerações minhas a respeitos de assuntos que envolvem a Igreja.

A palavra de Deus, hoje não é mais dele. Tornou-se, nas mãos de homens hábeis no discurso, uma mercadoria de grande valor. É fácil ver a liderança da igreja manipulando textos em seus sermões, a fim de criar membresias manipuláveis. O pior é que, além dos púlpitos, este tipo de recurso é apregoado praticamente em todos os meios de comunicação. Nesse sentido, basta que alguém se encontre em um ambiente onde quem decide o que se vai ouvir, ver ou ler seja partidário deste tipo de comportamento, ou até mesmo alguém que já se bitolou, para que pessoas sejam bombardeadas por "mensagens" mercadejadas onde o verdadeiro conteúdo do evangelho é deixado de lado.

Vive-se hoje a enganosa idéia de que a igreja tem que ser grande, forte para ser saudável. A igreja nunca precisou ser grande para ser saudável. A igreja precisa, sobretudo ser saudável, então ela será grande, ainda que composta por uma pequena quantidade de pessoas.

Aliado a estes problemas, a igreja insiste em demonizar tudo. A dor, a pobreza, o desemprego, as frustrações, as doenças, a depressão, tudo é culpa do demônio. Esquecemos que somos responsáveis por toda a nossa vida aqui, enquanto pessoas que têm a capacidade de modificar conceitos. Todavia, é mais fácil culpar o demônio por todos os nossos infortúnios.

Tratando sobre nossos dias atuais, vejo como é deprimente igrejas brasileiras recebendo da boca de irmãos de outros países conceitos sobre espiritualidade, onde ouve-se que "você só será espiritual se agir desta, e não daquela maneira". Que senso de arbitragem é essa que diz a um determinado grupo de pessoas que elas estão erradas? Por que o errado é o outro e nunca eu mesmo?

É neste caldo de palavra mercantilizada, que são formadas as condutas mais absurdas do cristão atual, onde na maioria das vezes, tudo é proibido e faz mal ao espírito e a carne tem que ser estirpada como se fosse um tumor maligno. Estão se formando na atualidade cristãos que precisam ser tangidos como se fossem meras ovelhinhas e não seres pensantes.

Infelizmente, por causa de uma liderança que pensa, age e cria anômalos cristãos, a boa liderança embarca, sem querer e sem necessidade nesta "canoa furada" e todos são julgados errados, simplesmente por fazerem parte da liderança. E o velho estigma do “pastor que rouba seus fiéis”.

Que tipo de cristianismo será apresentado para a geração de crentes que está por vir?

Que meus filhos não precisem passar e pensar essa situação caótica.

Filosofia - Algumas definições

Em filosofia não há nada para se provar ou acreditar. Ela é reflexão crítica, porque expressa uma tomada de posição, questiona a verdade das coisas, avalia a validade dos pensamentos, se dispõe a interpretar as questões sob visões diferentes de um mesmo assunto. Capacita-nos a avaliar a coerência do raciocínio dos outros posicionamentos tanto quanto dos nossos próprios pensamentos. Filosofia é também um processo de abstração. Abstrair é representar conceitualmente o saber. Quando somos capazes de sintetizar as nossas experiências em uma unidade compreensível, nós abstraímos. A Filosofia nos ensina a pensar com fundamentoe com significado. O homem não suporta uma vida sem significado. Buscando a si mesmo ele está em busca de sentido. O ser humano faz questão de si mesmo para si mesmo. Põe em questão o seu próprio ser. Quando se põe em questão, o homem é para si mesmo motivo de inquietação e angústia. Angustiado, percebe que algo perdeu seu fundamento, seu sentido e a partir de então, busca, através da reflexão reencontrar o sentido perdido e os vínculos com a realidade. Quem filosofa pensa sistematicamente, isto é, pensa a partir de princípios coerentes. As idéias relacionam-se com os conceitos, ordenando os enunciados com o objetivo de chegar a uma visão de totalidade.

Antigo Testamento - O surgimento do Pentateuco Segundo Erich Zenger

Erich Zenger parte do princípio que houve círculos de narrações a partir de 900 a.C e, a partir de 700 a.C, surge um modelo histórico-redacional de duas ou três fontes. Zenger resume assim o seu modelo:

1. O Pentateuco teria surgido de 3 fontes: textos não sacerdotais, textos sacerdotais e textos Deuteronomista, que tiveram suas próprias trajetórias até formar o Pentateuco.

2. Os primórdios da formação permanecem obscuros e ele supõe que duas formas literárias básicas do Pentateuco (narração e formulação de Leis) foram transmitidas ao longo desses anos respeitando as características de épocas, lugares, ética do clã, etc, para depois reunirem-se em círculos narrativos menores ou maiores em coletâneas rituais e legais.

3. A partir de 690 a.C, como reflexo da ruína do reino do norte em 722 a.C, surge a obra historiográfica de Jerusalém ou Livro histórico Jeovista. Existiam ciclos narrativos sobre os primórdios de Israel que foram compilados formando uma obra histórico-teológica. No Exílio esta obra foi ampliada e acrescida do antigo código da aliança, tendo como resultado a “obra historiográfica exílica”.

4. Em 520 a.C, no exílio na Babilônia, surge o que Zenger chama de escrito básico sacerdotal, por conter uma linguagem e teologia sacerdotais. Tem um caráter contrário à obra historiográfica exilica que não contém uma teologia sacerdotal. Inspira-se na teologia dos profetas Ezequiel e Jeremias e no Deutero-Isaias. Chegou com os repatriados do exílio e foi enriquecida com materiais do culto, lei e santidade.

5. A corrente de transmissão destacável do Pentateuco na forma do livro do Deuteronômio, que tem na sua fase mais antiga uma coletânea de leis sem nexo narrativo, é denominado Deuteronômio de Ezequias por ter surgido na época do reinado de Ezequias (700 a.C). É teologicamente próximo à obra historiográfica de Jerusalém. Foi ampliado sob Josias, constituindo no tempo do exílio uma parte da obra historiográfica deuteronomista abrangente.

6. Há duas explicações sobre como as “três fontes” formaram o Pentateuco:
a) Por volta de 450 a.C foram juntadas as correntes não-sacerdotal e sacerdotal até que sob a supervisão de Esdras, por volta de 400 a.C surgiu o Pentateuco pela inclusão de Deuteronômio.

b) A última fase do Pentateuco não é constituída pela introdução de deuteronômio, mas da corrente sacerdotal, que se dá na grande obra historiográfica, por volta de 550 a.C.

20.9.04

Antigo Testamento - Surgimento do Pentateuco segundo Julios Wellhausen

Na introdução ao Antigo testamento, começamos a trabalhar a teoria que diz que o Pentateuco não teria sido escrito somente por Moisés. Isto pode ser averiguado pelo fato de existirem algumas tensões em alguns textos. Podemos citar como exemplo duas descrições do dilúvio, onde em uma há uma solicitação para se colocar 7 casais de animais puros e 1 casal de animal impuro e em outra há somente a narrativa da entrada de 1 casal de cada animal, independente do conceito de pureza. Há ainda outros textos, inclusive na lei que reforçam esta idéia.
Estudamos sobre a teoria de Julius Wellhausen, que aponta para o fato de que o Pentateuco teria recebido 4 fontes distintas na sua elaboração, a saber, a fonte Javista (J), construída por volta do ano 950 a.C no reino do sul, a fonte Eloísta(E), construída por volta de 800 a.C. e inserida à fonte Javista por volta do ano 722 a.C. (JE), a fonte Deuteronomista(D), construída por volta do ano 662 a.C e inserida às fontes Javista e Eloísta, por volta do ano 586 a.C (JED) e a narração Sacerdotal, construída por volta do ano 550 a.C. e inserida às fontes Javista, Eloísta e Deuteronomista, por volta do ano 400 a.C. (JEDP), formando, finalmente, o que nós conhecemos hoje como Pentateuco.
No próximo texto, falarei sobre a forma como Erich Zenger trabalha a formação do Pentateuco.

17.9.04

História da Igreja - Primeiros passos da igreja em um mundo secular e sincrético

Como pensam errado parte da liderança da Igreja atual! A igreja nunca caminhou sem que existisse um contado como o que hoje é chamado "coisas do mundo". O Cristianismo cresceu convivendo com um mundo secular e não religioso e não se absteve da vida civil. Originalmente, o evangelho inseriu-se perfeitamente na história da vida humana. É preciso entender, também, que os primeiros cristãos eram judeus e, como judeus, receberam a palavra do evangelho. Essa perspectiva nos leva a entender que nossa fé não se limita apenas as histórias que envolvem Jesus, mas que envolvem todo o texto bíblico. Assumir nossa crença apenas com base no Novo Testamento é assumir uma revelação incompleta. Jesus nasce, vive e morre em um ambiente sincrético cultural. É nesse ambiente que Deus se revela humanamente e históricamente. Nasce então uma doutrina que, dentre outras coisas, tenta interpretar a presença de Deus no mundo, na história dos seres humanos e na pessoa de Jesus. Deus se personifica e passa a existir de forma concreta em um homem com totalidade divina.
O Judaísmo está vivendo épocas de libertação nacional e os meios pensados pelos judeus para esta libertação, passava por um governo teocrático que uniria na divindade os sentimentos religiosos e políticos. É importante citar quatro pincipais grupos e suas tendências dentro da comunidade Judaica, nesta ocasião:
Os FARISEUS, que eram o partido do povo, sem gozar das vantagens materiais do governo romano e helenista. Estavam preocupados somente em cumprir a lei tentando aplicá-la na vida diária. Eles criam na ressureição dos mortos e na existência dos anjos, doutrinas que não eram apoiadas pelas antigas tradições Judaicas.
Os SADUCEUS formavam o partido da aristrocracia e, por interesses, colaboravam com o regime romano. Ao contrário dos fariseus, tinham como ponto central da religião o culto do Templo. Não criam em ressureição e em anjos.
Formado por camponeses com iéias puristas, os ESSÊNIOS procuravam se apartar de todo o contado com o mundo gentílico, com o desejo de manter a pureza ritual. Com têndencias escatológicas, criam na vinda do messias, ou melhor, para eles havia três tipos de messias: o mestre da Justiça, cumprido na lei dos profetas; o messias de Israel, que ainda estava para vir e o messias de Arão, que só viria quando houvesse uma libertação político-social.
Os ZELOTES desejavam a libertação política e tinham no trinômio culto-templo-lei o resumo da esperança messiânica. Criam na promessa de que Deus restauraria Israel, mas entendiam que tinham o dever de acelerar a chegada da promessa recorrendo às armas.
Por último, havia os SICÁRIOS, grupo possuidor de leis secretas e comunicação e que recorriam ao assassinato de pessoas inimigas do Judaísmo.
Numa opinião muito pessoal, (colegas de turma, não respondam isso numa prova! Pode não ser a melhor resposta) entendo que Jesus encarnava características dos fariseus, pelo seu relacionamento com o povo e a sua total sepração do regime de governo e à sua opção pessoal pela não-violência.

Até a próxima...

13.9.04

Psicologia - Pensando sobre a subjetividade humana

Fiquei sem postar nenhum texto por quase duas semanas. Isto talvez me impeça de continuar com uma estrutura semanal. Gostaria de dar uma explicação a respeito de meus textos. Não existe nenhuma pretensão de expor todo o conteúdo das aulas. Os textos nascem da visão que tenho das aulas e não são as aulas propriamente dita. Esta explicação surge ante a colocação por parte de alguns colegas que reclamaram por eu não estar falando dos assuntos por completo. A partir de hoje, aceitando a sugestão de alguns, estarei postando textos divididos em matéria.

Em Psicologia aprendemos que ninguém é parecido com ninguém. Somos individuais em nossa maneira de ser. Esta forma de ser, denominada subjetividade pela Psicologia é formada a medida em que vamos nos construindo a partir da vivência das experiências da vida social e cultural de cada um de nós. Ao mesmo tempo em que nos faz únicos, pode nos igualar na medida em que os elementos que constituem a subjetividade são vividos no campo comum da objetividade social.
Na medida em que vamos nos relacionando com o que está a nossa volta e vivenciando emoções, pensamentos, fantasias, sonhos, etc... construímos características que nos fazem ser o que somos. Entendemos também, que o homem pode promover novas formas de subjetividades, quando se recusa a se sujeitar a ter sua memória perdida pela fugacidade de informações e quando se recusa a massificação que estigmatiza o diferente, a aceitação social condicionada ao consumo e a medicalização do sofrimento. Retoma-se, nesse sentindo a seguinte utopia: “cada homem poder participar na construção do seu destino e da sua coletividade”.
- Nosso mundo atual, acelerado, e sempre conectado, gerando informações praticamente em tempo real transformam totalmente nossa experiência de espaço-tempo.
- Novas biotecnologias mudam nossas percepções sobre a morte, a doença, a saúde, a reprodução, o envelhecimento.
- Por não existir mais um mundo bi-polar (Capitalismo x Socialismo) nossa visão de mundo e de futuro em relação as nossas utopias e sonhos torna-se diferente.
- Grandes narrativas em declino e enfraquecimento da religião, da política e do estado, cria indivíduos desamparados.
- A invasão do mercado, ocupando todos os espaços, inclusive onde não deveria, como na religião (teologias da prosperidade) e até no ensino (estuda-se para vender o conhecimento posteriormente)
Todos estes pontos imediatamente anteriores influenciam na formação da subjetividade.



30.8.04

Terceira semana

Das aulas de Língua Portuguesa, não tenho muito a falar. Na realidade não são tão empolgantes como as outras. E que me perdoe o professor, mas é assim que vejo.

Finalmente História da Igreja! Fomos informados que a matéria trataria da história da igreja em todas as suas nuances, não deixando de lado nem mesmo aquilo que normalmente colocamos como menos importante. “A igreja é uma comunidade de pecadores e não de santos” Com esta afirmativa, fomos levados a pensar no fato de que Deus é muito mais poderoso do que imaginamos. Ele não é um deus (minúsculo mesmo) que está sujeito a nossa vontade. Ele é um Deus (maiúsculo) tão poderoso, que faz o que quer e não faz o que não quer e quando faz o que quer tem poder de fazer com quem achar melhor, independente de ser esta pessoa, boa, má, fiel, infiel, Abraão, Davi , Jacó, ou até mesmo eu. A igreja tem seus problemas, ao longo da história exatamente por ser formada por estes tipos de pessoas. E tem seu sucesso, exatamente por estes tipos de pessoas aceitarem a atuação de Deus em suas Vidas. Nesse sentido, Deus age em mim, através de mim e apesar de mim. Ao contrário do que muitos pensam, a igreja não teve um início como religião isolada. Era muito mais uma facção do Judaísmo, e assim permaneceu por algum tempo.

Conhecemos as quatro grandes teorias em Psicologia . As causas dos problemas no comportamento humano estão em suas bases físicas. Assim fala a teoria biofísica. Pergunta-se então, que elementos biofísicos estão presentes no comportamento humano. “Eu sou o meu genoma e meu DNA”. Temos nesta perspectivas olhares quase que definitivos quando ouvimos “descobrimos o gen da dor”. A tendência é interferir no processo da dor através de medicamentos. Cura-se a dor, mas as origens são ignoradas.
As teorias sócio-comportamentais trazem a idéia de que o comportamento do ser humano está associado ao meio em que ele vive. Nesse sentido, se mudarmos o ser humano de ambiente, interferimos em seu comportamento.
O homem se comporta em função de seu psiquismo consciente. Assim diz a teoria fenomenológica. A pergunta é “por que você está sempre envolvido neste tipo de comportamento?” Trata-se de confrontar o indivíduo com seus próprios desejos, numa perspectiva consciente.
O ser humano não tem consciência de suas escolhas, pois é movido por um sujeito do qual não tem consciência. É desta forma que a teoria intrapsíquica entende o comportamento do ser humano. A grande escola desta teoria é a psicanálise.

Em Filosofia, continuamos a ver as definições de filosofia. Ainda não avançamos além de definições. Quando nos depararmos com os grandes pensadores, as novidades serão maiores

Começamos a ver o Pentateuco. Fomos informados que, devido ao estilo de escrita e alguns pontos de tensões, o Pentateuco foi escrito por mais de uma pessoa e não somente por Moisés, como se acredita. Ao chamar Deus por nomes diferentes e ao tratar da questão do dízimo com três alternativas diferentes, temos a idéia de que Pentateuco não foi escrito por uma pessoa só. Nesta ocasião, mais uma vez confundiu-se igreja com sala de aula. Isto é ruim, pois a matéria foi colocada em segundo plano.

Devemos escrever para os outros e não para nós mesmos. Esta é a síntese da Metodologia de estudos universitários.

O alfabeto hebraico, mais uma vez desafiando meus péssimos dotes artísticos, terminou uma semana que foi recheada de grandes conflitos.

Até a próxima....

23.8.04

Segunda Semana

Passada a primeira semana, cá estou eu começando realmente os estudos. Ainda há uma certa distância entre os alunos, o que considero perfeitamente natural.

Foi agradável estar presente no debate com os alunos de um curso de Teologia dos E.U.A. Foi bom ver que há muita lucidez em aluno(s) no primeiro período, assim como muita falta dela em aluno(s) de períodos mais avançados. Isso mostrou-me que lucidez diante de determinados assuntos, não depende do curso, e sim do aluno.

Foi interessante o primeiro contato com a Psicologia. Como é complicado ser humano. Somos o único ser na face da terra que conhece sua própria finitude. Isso as vezes dói e causa uma grande angústia.

"Filosóficamente falando, somos todos inteligentes". Este foi um grande conforto que a Filosofia nos deu. Começamos a entender que Filosofia não é o "bicho de não sei quantas cabeças" que muitos acreditam ser. Saber que Filosofia é uma pergunta e que quem pergunta pela identidade e realidade de alguma coisa está filosofando, deixou-me um pouco mais calmo. Afinal, não é tão difícil (ao menos por agora) entender essa definição. Como teria sido mais fácil, se já no meu ensino médio fosse dito desta forma.

O Antigo Testamento começou a ser descortinado, não sob a ótica da fé, mas da pesquisa científica. Foi minha primeira experiência nesse sentido e para mim, foi muito bom. Foi fácil perceber que alguns alunos estão ainda com a mente fechada, não querendo aceitar o discurso voltado para a ciência. Quem quiser saber um pouco mais sobre a história de Israel, pode acessar www.airtonjo.com/historia.htm

Como não podia deixar de ser, iniciamos em Metodologia de Estudos Universitários. Não me trouxe, com sinceridade, tanta euforia quanto as outras. Se é necesário, vamos enfrentá-las da melhor maneira possível.

Faltou falar de Língua Portuguesa, que foi prejudica pelo já mencionado debate, mas até agora, nada muito surpreendente. Que continue assim.

Não conheçemos ainda a História da Igreja, pela qual, particularmente tenho muita sede.

O Hebraico ficou por último, pois ainda estou digerindo a primeira aula. Como é complicado, ainda mais quando se sabe que no lugar de cinco, temos 16 vogais. E a escrita? Deveria ter prestado mais atenção aos desenhos de meus filhos. Com certeza, na hora de escrever em hebraico, isso me ajudaria muito.

Até a próxima semana....

16.8.04

Primeira Semana

É uma realidade nova para mim, compreender a diferença entre seminário e academia. Isso porque estive voltado toda a minha vida para a idéia de que o estudo de Teologia estava relacionado com o preparo de alguém que iria, no futuro assumir um chamado divino para o pastorado. É muito interessante saber que existem pessoas que estão no curso de Teologia, somente para agregar conhecimento. Isto ajuda-me a dismistificar o sentido "Teológico-religioso" que foi formado em minha mente. Mas, em contrapartida aos que querem somente absorver conhecimento, existem aqueles que já acham que detem o conhecimento. Intimamente, tenho dificuldades de entender isso.

A alegria do começo, mistura-se com a frustração da desinformação total por parte dos "organizadores" da faculdade e daquelas aulas que são somente apresentações. De certa forma, pude tirar proveito das apresentações sejam elas de professores ou alunos. A turma é plural, não no sentido da religião ou doutrina de cada um, mas no sentido do conhecimento ou do desejo de adquiri-lo. No primeiro momento, isso é muito bom, mas causa alguns problemas, espero que superáveis ao logo do curso.

Na próxima semana, espero ter mais e melhores novidades.