O termo profeta recebeu no ocidente, um valor muito menor do que o era na sua originalidade. Há uma crença de que profeta é aquele que prediz o futuro. Esta idéia, infelizmente foi também difundida pela pregação cristã que sempre mostrou os profetas como homens a quem Deus enviou para anunciar o Messias. Percebe-se com muita clareza que esta função ocidentalizada e cristã dos profetas não é, de fato uma realidade, quando, ao examinarmos os textos da profecia, encontrarmos poucos textos messiânicos. A foco principal dos textos proféticos são os testemunhos sobre Deus. Até mesmo pela expressão hebraica para profeta (nabi - Chamador chamado), temos a idéia do que realmente era um profeta. Ainda na sua designação grega (prophétes - porta-voz da divindade perante o povo), não temos a idéia simplória de que profeta é aquele que prevê o futuro. Os livros do profetismo são uma seleção do profetismo de Israel em dois sentidos:
1º - Nesses livros estão preservadas tão-somente palavras dos personagens chamados de “profetas escriturísticos” e a continuação escrita de suas palavras. Historicamente isto limita o tempo do profetismo ao tempo em torno das duas grandes crises existenciais de Israel. Os livros dos profetas escriturísticos que trazem o seu nome mostram um quadro histórico muito limitado, por conter somente uma seleção de suas palavras e estas na forma de múltiplas revisões continuadas.
2º - Através dos livros do profetismo e da história, conclui-se que houve concomitantemente aos profetas escriturísticos, outros profetas que afirmavam estar falando em nome de Javé. Esses tinham um número maior e eram melhor aceitos por seus contemporâneos. Eram essencialmente "profetas de salvação" e serviam à estabilização religiosa do Estado e anunciavam o apoio libertador de Javé, ao passo que os "escriturísticos" evidenciavam-se como críticos públicos e como anunciantes do juízo e da destruição. A história deu razão aos profetas da desgraça e não aos profetas de salvação, portanto, suas palavras se tornaram o cerne do profetismo "canônico".
Podemos perceber que ouve uma diversidade de atuação profética em Israel pela multiplicidade de termos que a bíblia hebraica designa “profetas”, bem como do fato que, por exemplo, Amós recusou-se a ser chamado de nabi (comunicador vocacionado da palavra de Deus = profeta), nem ben-nabi (filho de profeta = membro de uma irmandade profética), mas não se opôs a ser chamado de hozeh (vidente). Outro designativo antigo é “Homem de Deus” que sugere poder miraculoso, singularmente o carisma da cura e da divinação (indagação a Deus). Outros termos como ro’eh e hozeh (vidente/clarividente) também são usados, pelos quais se destaca a recepção da palavra de Deus que se processa por meio da visão e audição.
Podemos observar as seguintes diferenciações - grosso modo - em função da atuação dos profetas de Israel. :
1º - Profetas de congregações ou irmandade – Eram chamados de “filhos de profetas de profetas” e formavam comunidades de profetas em torno de Samuel, Elias e Eliseu. Seu contato com a divindade é por meio do êxtase (musica e dança), atuam como curandeiros, transmitem oráculos de Deus, são conselheiros populares, milagreiros e causadores de instabilidade política. Vivem como pastores e agricultores, porém se reúnem para “sessões” profética com seu mestre na “escola de profetas”.
2º - Profetas do templo – Tinham como função principal interceder e anunciar a partir de Deus no contexto do culto. São subordinados aos sacerdotes e são funcionários do Rei e por isso são criticados.
3º - Profetas da corte – Estavam a serviço do rei e de sua política e tinham a função de assegurar a paz diante das situações críticas e afastar as desgraças.
4º - Profetas independentes, de oposição – Em termos de número foi o grupo menor e menos respeitado no tempo de sua atuação. Quanto à história de sua influência, constituem o grupo mais importante. Com exceção de Hab, Na e Jl, todos os profetas escriturísticos fazem parte desse grupo. São os “videntes” dos primórdios. Sua biografia está oculta nos livros que receberam seus nomes. É cada vez mais duvidosos que se consiga resgatar as palavras “autênticas” desses profetas. São oriundos de ambientes sociais distintos (Amós e Miquéias: agricultores; Isaías: professor de sabedoria na academia de Jerusalém; Jeremias e Ezequiel: filhos de renomadas famílias de sacerdotes com perspectivas de carreira sacerdotal). Foram arrancados desse ambiente por sua experiência de vocação. Apresentam-se onde as instituições apodrecem. Devem ser incluídos num contexto sociológico mais nos grupos periféricos que nos centrais. Isaías, “não pode andar o caminho desse povo”; Amós é estrangeiro e defende a causa dos pobres; Oséias recebe sua formação profética na vida familiar; Miquéias vem de uma cidadezinha interiorana contra os poderes da capital; Jeremias vive solitário e é até perseguido pelos mais próximos. Nesse sentido a s história do profetismo clássico é uma história de martírios.
5º - Profetas literários (interpretação profética de profetas) – O que se quer dizer do texto entre parênteses é que nenhum livro de profeta é da autoria do profeta, cujo nome lhe foi dado. Parece mais correto entender que houve um círculo de profetas que fizeram uma interpretação profética dos discursos dos profetas que deram nomes aos livros, discursos esses que eram palavras breves e isoladas. É fácil de entender isso quando pensamos na possibilidade de um profeta ter dito, por exemplo “quem corre cansa”, palavra curta e isolada, e que, posteriormente, foi feita uma releitura e estabelecida em textos, parecidos com: “houve um homem, chamado por Deus, da terra tal, filho de fulano, que recebeu da parte de Deus a mensagem “quem corre cansa” e que transmitiu ao seu povo. Não obstante estabelecer este texto, em outra época o mesmo era reeditado segundo a visão do momento da reedição até que chegasse ao que conhecemos hoje como livro. Originalmente, o profetismo tinha características de juízo. Grande parte dos livros de profetas é composto sob a ótica salvífico-escatológico, seja mostrando a necessidade de arrependimento, seja anunciando a salvação realizada por meio do juizo. Está presente na maioria dos livros proféticos o discurso da desgraça-salvação.
Até a próxima...
1º - Nesses livros estão preservadas tão-somente palavras dos personagens chamados de “profetas escriturísticos” e a continuação escrita de suas palavras. Historicamente isto limita o tempo do profetismo ao tempo em torno das duas grandes crises existenciais de Israel. Os livros dos profetas escriturísticos que trazem o seu nome mostram um quadro histórico muito limitado, por conter somente uma seleção de suas palavras e estas na forma de múltiplas revisões continuadas.
2º - Através dos livros do profetismo e da história, conclui-se que houve concomitantemente aos profetas escriturísticos, outros profetas que afirmavam estar falando em nome de Javé. Esses tinham um número maior e eram melhor aceitos por seus contemporâneos. Eram essencialmente "profetas de salvação" e serviam à estabilização religiosa do Estado e anunciavam o apoio libertador de Javé, ao passo que os "escriturísticos" evidenciavam-se como críticos públicos e como anunciantes do juízo e da destruição. A história deu razão aos profetas da desgraça e não aos profetas de salvação, portanto, suas palavras se tornaram o cerne do profetismo "canônico".
Podemos perceber que ouve uma diversidade de atuação profética em Israel pela multiplicidade de termos que a bíblia hebraica designa “profetas”, bem como do fato que, por exemplo, Amós recusou-se a ser chamado de nabi (comunicador vocacionado da palavra de Deus = profeta), nem ben-nabi (filho de profeta = membro de uma irmandade profética), mas não se opôs a ser chamado de hozeh (vidente). Outro designativo antigo é “Homem de Deus” que sugere poder miraculoso, singularmente o carisma da cura e da divinação (indagação a Deus). Outros termos como ro’eh e hozeh (vidente/clarividente) também são usados, pelos quais se destaca a recepção da palavra de Deus que se processa por meio da visão e audição.
Podemos observar as seguintes diferenciações - grosso modo - em função da atuação dos profetas de Israel. :
1º - Profetas de congregações ou irmandade – Eram chamados de “filhos de profetas de profetas” e formavam comunidades de profetas em torno de Samuel, Elias e Eliseu. Seu contato com a divindade é por meio do êxtase (musica e dança), atuam como curandeiros, transmitem oráculos de Deus, são conselheiros populares, milagreiros e causadores de instabilidade política. Vivem como pastores e agricultores, porém se reúnem para “sessões” profética com seu mestre na “escola de profetas”.
2º - Profetas do templo – Tinham como função principal interceder e anunciar a partir de Deus no contexto do culto. São subordinados aos sacerdotes e são funcionários do Rei e por isso são criticados.
3º - Profetas da corte – Estavam a serviço do rei e de sua política e tinham a função de assegurar a paz diante das situações críticas e afastar as desgraças.
4º - Profetas independentes, de oposição – Em termos de número foi o grupo menor e menos respeitado no tempo de sua atuação. Quanto à história de sua influência, constituem o grupo mais importante. Com exceção de Hab, Na e Jl, todos os profetas escriturísticos fazem parte desse grupo. São os “videntes” dos primórdios. Sua biografia está oculta nos livros que receberam seus nomes. É cada vez mais duvidosos que se consiga resgatar as palavras “autênticas” desses profetas. São oriundos de ambientes sociais distintos (Amós e Miquéias: agricultores; Isaías: professor de sabedoria na academia de Jerusalém; Jeremias e Ezequiel: filhos de renomadas famílias de sacerdotes com perspectivas de carreira sacerdotal). Foram arrancados desse ambiente por sua experiência de vocação. Apresentam-se onde as instituições apodrecem. Devem ser incluídos num contexto sociológico mais nos grupos periféricos que nos centrais. Isaías, “não pode andar o caminho desse povo”; Amós é estrangeiro e defende a causa dos pobres; Oséias recebe sua formação profética na vida familiar; Miquéias vem de uma cidadezinha interiorana contra os poderes da capital; Jeremias vive solitário e é até perseguido pelos mais próximos. Nesse sentido a s história do profetismo clássico é uma história de martírios.
5º - Profetas literários (interpretação profética de profetas) – O que se quer dizer do texto entre parênteses é que nenhum livro de profeta é da autoria do profeta, cujo nome lhe foi dado. Parece mais correto entender que houve um círculo de profetas que fizeram uma interpretação profética dos discursos dos profetas que deram nomes aos livros, discursos esses que eram palavras breves e isoladas. É fácil de entender isso quando pensamos na possibilidade de um profeta ter dito, por exemplo “quem corre cansa”, palavra curta e isolada, e que, posteriormente, foi feita uma releitura e estabelecida em textos, parecidos com: “houve um homem, chamado por Deus, da terra tal, filho de fulano, que recebeu da parte de Deus a mensagem “quem corre cansa” e que transmitiu ao seu povo. Não obstante estabelecer este texto, em outra época o mesmo era reeditado segundo a visão do momento da reedição até que chegasse ao que conhecemos hoje como livro. Originalmente, o profetismo tinha características de juízo. Grande parte dos livros de profetas é composto sob a ótica salvífico-escatológico, seja mostrando a necessidade de arrependimento, seja anunciando a salvação realizada por meio do juizo. Está presente na maioria dos livros proféticos o discurso da desgraça-salvação.
Até a próxima...
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