Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

22.9.04

Psicologia - O surgimento da noção do indivíduo, da razão e da loucura

Em um mundo cosmocêntrico, como era o mundo antigo, o homem não faz questão de si próprio. A pergunta “Quem sou eu”?” não tem sentido. As pessoas compreendem-se e compreendem a própria cultura inseridas no cosmos que as cerca. Vive-se de acordo com a natureza, num mundo teocêntrico onde a idéia de linearidade não se coloca.
No mundo moderno, antropocêntrico, a vontade humana e não os poderes da natureza é que determinam o destino do homem. Há uma visão histórica. A natureza torna-se objeto, o homem, sujeito. Em lugar de uma razão contemplativa, orientada desinteressadamente para a busca da verdade, onde busca-se o conhecimento pelo prazer de conhecer, aparece uma razão instrumental onde à mera observação, acrescenta-se um procedimento ativo onde conhecer é controlar e dominar a natureza e os seres humanos. Atormentar a natureza e fazê-la reagir a condições artificiais, criadas pelo homem. Atormentar a natureza é conhecer seus segredos para dominá-la e transformá-la. A ciência se torna instrumental deixando de ser uma forma de aceso aos conhecimentos verdadeiros e se tornando um instrumento de dominação e exploração. Segundo o pensamento de Bacon, não basta a observação pura e simples. É importante também que haja regras metodológicas para a prática científica. Para Descartes, a dúvida metódica é o procedimento fundamental: desconfiar de tudo.
Esboça-se com mais clareza: 1. o surgimento da razão instrumental, 2. o surgimento da noção de indivíduo, 3. a noção da consciência/razão, como critério de verdade. Nesse contexto surge a idéia da loucura (no início do séc. XVII). Até então, o louco era o doente, o diferente. Nesse sentido, a loucura não atinge o pensamento, pois são excludentes. O louco não tem a capacidade de pensar, ou seja, é um animal que perdeu a racionalidade. Identificado com o animal, o louco é tratado com técnicas utilizadas para domar animais. Busca-se por uma tentativa de apontar se o indivíduo era ou não louco, sem se preocupar com as causas. A cura não é, nesse caso, interessante, mas o confinamento, o controle disciplinar do indivíduo.
No século XIX a Psiquiatria era capaz de identificar a loucura, mas não sabia o que era. Moreu de Tours (Psiquiatra Francês) faz experimentos com haxixe e estabelece a idéia de que a loucura pode ser produzida experimentalmente. Mais do que isso, ele diz que nem é preciso produzir artificialmente a loucura: é possível encontrá-la em nós cada vez que sonhamos. “O louco é um sonhador acordado”. “o sonho é a loucura do indivíduo adormecido”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ronildo, esse pensamento me ajudou bastante na minha pesquisa, obrigada! Mas você diria que a á passagem desse mundo cosmocêntrico se deu a partir de que acontecimento social? Talvez... A Reforma?

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Ronildo Brites disse...

Anonimo, use o meu e-mail ronildo@brites.pro.br para discutirmos algumas idéias. Mas a princípio, acredito que a mudança de um mundo cosmocêntrico para antopocêntrico se dá a partir do momento em que o homem tem necessidades de se auto-explicar. Nesse sentido, o fato social não tem tanta relevancia, ainda que alguns o tenho como motor de mudanças.