Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

19.3.11

A tragédia de ser insensível.



"E, Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis." Evangelho de Lucas 13.1-5

"E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça".  Evangelho de Lucas 9.58

No mundo moderno, ouvir falar de tragédias e como ouvir a voz do cotidiano. Pode ser que não aconteça todos os dias ao nosso lado, mas com certeza em algum lugar da terra, algo muito trágico já aconteceu, está acontecendo ou ainda vai acontecer. De fato, as tragédias acompanham a história da vida humana na terra. Temos vários exemplos de tragédias na bíblia e poderíamos discorrer sobre todas elas chegando com certeza a um vasto material sobre o assunto. Mas não quero discorrer sobre as tragédias bíblicas. Quero me referir às tragédias atuais. 

Tsunami Asiático – Bastou que as primeiras impressões de horror, transmitidas pelas grandes redes de televisão passassem para que certo brado, quase que de vitória surgisse entre algumas correntes neo-evangélicas. Para se entender melhor o termo neo-evangélico, é preciso lê-lo sob a ótica de Paulo quando diz: “Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema (maldito).” Gálatas 1.9. Pois bem, os neo-evangélicos, se apressaram a dizer que o tsunami asiático era a resposta de Deus contra toda a idolatria daquela região. Para quem pensou dessa forma, seria necessário reescrever um texto clássico dos evangelhos: “Por que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna, todavia, os que não crerem nele, que sejam trucidados por tragédias da natureza.”

Terremoto no Haiti – Um pastor neo-evangélico americano, alardeou em rede nacional que o que acontecera ao Haiti era o efeito do castigo de Deus pelo pacto que os haitianos fizeram com o diabo, quando da sua libertação do jugo Francês. Quem vê a declaração desse pastor neo-evangélico, pode até pensar que os estadunidenses não sofrem com terremotos, tufões, furações, violência diversas, corrupção política, corrupção moral, etc. Os Estados Unidos há muito tempo deixou de ser um bom exemplo para o mundo, e os pastores neo-evangélicos de lá também. Não há como culpar um povo pelas suas manifestações religiosas alardeadas por esse tipo de pastor como sendo do diabo, se a igreja neo-evangelica americana está recheadas de conceitos fetichistas, anti-bíblicos e, segundo a ótica desse tipo de pastor, cheios de macumba ou boacumba como alguns dizem. O nome não importa quando o engano é o mesmo.

Terremoto e tsunami no Japão – O Japão e outros países do oriente já estão fadados aos críticos neo-evangélicos por conta da forma com que encaram a religiosidade. É comum encontrar neo-evangélicos que atacam ferozmente o Japão, China, India por conta da sua forma de adoração aos deuses. Muito do que vem do Japão é rejeitado simplesmente porque vem de lá. Por conta disso, se não surgiu, ainda surgirão vozes que gritarão acerca da ira de Deus consumindo os japoneses por conta de suas idolatrias.

Prefiro entender que o que acontece a eles, pode acontecer com qualquer pessoa. Prefiro entender que tragédias são tragédias e não um meio de Deus punir o homem. Existem tragédias diferentes de terremotos e tsunamis que assolam outros países, menos idolatras do ponto de vista dos neo-evangélicos. O que dizer dos milhares de adolescentes envolvidos com drogas, banditismo, prostituição, trabalho escravo? Não seriam tragédias milhares de mulheres que são sacrificadas por seus parceiros, que sofrem estupros, que são marginalizadas de alguma forma? Não seria também tragédia, o grande número de pessoas que ainda sentem fome e morrem de fome? Não seria tragédia todo o caos social existente no mundo independente de tufões, furacões, terremotos, tsunamis, idolatria?

Prefiro entender os povos sofridos com essas catástrofes, como pessoas que estão mais próximas da realidade de Jesus: pobre, sem casa para dormir, sem alimentos para comer e com um grande número de pessoas apontando para ele e dizendo que ele estava errado na sua forma de pensar, ser e agir. 

Falamos mal dos atingidos pelas tragédias, porque é fácil falar de coisas que ainda não nos atingiram, mas como diz o relato de Lucas, se nós nos não nos arrependermos, tudo isso pode cair sobre nós. Maior que a tragédia que abate o mundo é a tragédia da insensibilidade do mundo, que independente de qual seja o credo religioso, insiste em ignorar a dor que atinge o ser humano.

Nele, que não tinha casa, não tinha pão, morreu a morte dos desvalidos e por eles intercede.

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