Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

15.12.05

Silêncio

"Jesus, porém, guardou silêncio." (Evangelho de Mateus)

Nessa época do ano, que antecede as comemorações do natal, há uma grande agitação em todas as pessoas. As lojas, shoppings, mercados, o comércio em geral parecem que vão explodir, tal e qual uma grande panela fervilhando sem válvula de escape.
Nas lojas, ouvem-se sons de harpas tocando “Jingles Bell” interminavelmente a ponto de deixar qualquer um irritado. Ouve-se o som da agitação, da oportunidade, da solidariedade, das campanhas publicitárias e de tantos outros que acabamos por perder a real noção do que vamos comemorar.

Sei que, historicamente, nada se pode provar em relação ao nascimento do Cristo, nesta época do ano, mas quero aproveitar exatamente essa época em que se “comemora” sem se comemorar nada, para caminhar na direção oposta. O que precisamos mesmo é fazer como Jesus fez diante de um momento tão decisivo de sua vida: “guardar silêncio”. Estamos preocupados demais em querer fazer nossa voz ser percebida, nosso direito ser preservado, nossa festa ser jubilosa que nos esquecemos de fazer silêncio e deixar simplesmente que o Eterno fale em nós, por nós e para nós, mesmo que para isso Ele tenha que simplesmente ficar em silêncio.

Quero me recordar de dois momentos cruciais na história da humanidade:

O primeiro, quando em um lugar simples, sem nenhuma pompa, nascia um menininho de aparência comum a tantos outros meninos que nasceram no mesmo dia. Acompanhado por sua corte, formada por alguns animais ele não foi recebido com brilho, fogos, festas, comidas, bebidas, roupas novas, mas simplesmente com o olhar atento de sua mãe e de seu pai. Embora em meio a tanta carência de luxo, esse menino nascera para reinar.

Se sua mãe estivesse grávida hoje, com certeza ela não teria dificuldades de encontrar lugar para o nascimento. Sua mãe, no lugar de ter problemas por não encontrar lugar onde pousar, teria problemas para escolher em que lugar pousar. Já posso até imaginar igrejas anunciando: “venham ver o nascimento do filho de Deus e aproveite para levar pra casa um pedaço do tecido que será usado para cobrir o menino”. Todas as emissoras de rádios evangélicas fariam suas chamadas, todos os canais evangélicos dariam sua participação. Seria uma festa, se não fosse deprimente e vergonhoso. Contudo, Ele nasceu lá, naquela época em que ninguém quis fazer festa ou seque saber de seu nascimento. Nasceu no silêncio de uma madrugada, silêncio cortado apenas pelo som dos animais e de sua mãe que lhe dava a vida em meio a dores de parto.

O Segundo momento não é um momento de silêncio, mas é um momento de gritos desesperados por alguém que se vai. É o momento do julgamento, das chicotadas que dilaceravam carne e coração. É o momento do sangue que se esvai e de suores que ardem nas feridas. É o momento da dor de quem apanha e se fere, mas também de quem vê e se fere na alma.

Existe porem um momento que quero destacar: o momento do julgamento. Nesse momento, ao ser inquirido pelas autoridades religiosas sobre a sua natureza, aquele que outrora era menino e agora um homem responde de uma forma totalmente surpreendente. Ele guardou silêncio.

Não era um silêncio eterno de morte. Não era um silêncio de quem se acovarda ou de quem se dá por vencido, mas um silêncio de quem não deseja mais ouvir o que é efêmero. É um silêncio para ouvir o que realmente importa ouvir: A voz do Pai, mesmo que vivenciada na quietude total.

A força desse silêncio, produziria momentos mais tarde um grande brado; um grito que soa não como a última palavra de um derrotado, mas como as primeiras palavras de um vitorioso: “está consumado”. Depois dessas palavras o que se pode ouvir Dele é somente o Silêncio.

Meu convite a você, que de vez em quando passeia por esses textos é que você se dê a chance de ouvir esse momento de Deus em sua vida. Ouvir o silêncio. Ouvir a quietude. Ouvir a voz do Pai, que já consumou a sua parte e espera somente que você faça a sua. Faça como o filho, guarde silêncio, pois o pai é muito educado e não falará enquanto estivermos falando.

Silêncio...

Silêncio...

Ouça a Voz do Pai, mesmo que em Silêncio.

Feliz Natal? Você é quem vai decidir se souber ouvir o Silêncio.

19.11.05

Saindo e chegando.

“Como ribeiro de água, assim o coração do rei na mão do Senhor, este, segundo o seu querer, o inclina.” (Rei Salomão)

“Quero lá la la ia lá lá ia lá lá ia lá lá ia, porque eu tô voltando” (Chico Buarque de Holanda)

Depois de um período de aproximadamente quinze anos estou voltando para a Igreja Batista. Saí de lá com minha esposa, hoje retorno com meu casal de filhos, bênçãos que o Eterno derramou sobre nossas vidas.

Foi um período de grandes realizações. Fizemos parte de duas igrejas pentecostais (Assembléia de Deus) e cremos que pela Graça de Jesus, fizemos parte e deixamos o nosso nome na história dessas comunidades.

Agradecemos a Deus por todos os amigos que fizemos nessas igrejas. Com certeza os levaremos conosco, como diz a música, “...guardados debaixo de sete chaves no lado esquerdo do peito”.

Alguns, a despeito de nossa vontade contrária, quiseram se colocar como inimigos. Aos que quiseram ser assim, também agradeço. Fizeram-nos crescer e praticar o verdadeiro cristianismo.

Foi uma fase de grandes aprendizados. Alguns positivos, outros, nem tanto. Mas todos valeram.

Queremos voltar na perspectiva de que, assim como o coração do rei descrito por Salomão é conduzido pelo Senhor, nosso coração também o é. Queremos viver uma vida que dê frutos para o Senhor. Fizemos isso nesses quinze anos e queremos continuar fazendo em nossa nova comunidade de irmãos.

Já recebi algumas críticas em função da minha decisão, e aí faço como o Chico: Quero é cantarolar uma canção, “porque eu tô voltando”.

Para a nossa nova comunidade de irmãos, a Igreja Batista de Abolição, pastoreada pelo Pr. Leopoldo de Souza Rodrigues, gostaria de dizer que precisamos de braços que se abram num grande abraço que diga, mesmo sem palavras, vocês são bem vindos.

Para a nossa antiga comunidade de irmãos deixamos um até logo, pois em breve nos reuniremos com Jesus nos céus e aí será uma grande festa sem fim.

12.11.05

Lojinha Gospel (ou Loja dos Horrores)

Depois de uma pequena olhada nas esquisitices da igreja moderna, resolvi montar minha lojinha gospel. Abaixo segue minha lista de produtos com uma breve descrição.

Berrante gospel – Mais conhecido como Shofar, mas, como eu dou valor ao que é brasileiro, prefiro de chamar pelo nome que nossos boiadeiros chamam. O berrante gospel é feito de chifres de carneiro e serve para invocar a presença do espírito santo (com letra minúscula mesmo). Vou confidenciar aqui um segredo. O meu será feito aqui no Brasil mesmo, mas para ter um status mais santo, vou alardear que esse é feito lá em Israel por uma família de levitas que ainda existe por lá. Pensei em mandar os levitas daqui fazerem isso, mas os levitas brasileiros só sabem cantar.

Óleo ungido do Monte das Oliveiras – Esse não é um óleo qualquer. Embora seja produzido com a soja que é plantada no Brasil, vou fazer todo mundo acreditar que é do monte das oliveiras. Mas espera um pouco.... Mas se vou dizer que é do Monte das Oliveiras não pode ser óleo. Já sei! O nome será Azeite ungido do Monte das Oliveiras. Com ele você poderá ungir sapatos, retratos, roupas íntimas, carteira de trabalho, muros dos bairros, etc...

Anel efatá – Não é assim que se escreve no hebraico, mas se eu escrever ephatah, como é transliterado do hebraico, talvez alguém pense que não sei escrever direito. Com esse anel todas as portas fechadas se abrirão. Com ele no seu dedo, você diz a palavrinha mágica: “abracadabra”, quer dizer, "efatá" e as portas serão abertas. Sempre bom ter um no dedo caso você perca as chaves da casa ou do carro. Eles serão feito de latão, porque é mais baratinho, mas direi que é de um latão retirado numa mina perto do monte Sinai, pois assim terá mais credibilidade. Com certeza esse anel abrirá muitas portas financeira, principalmente as minhas.

Cajado de Moisés - Bem menor que o cajado original, mas com poderes ainda maiores. A primeira remessa foi feita de metal, mas já vi que foi um erro. Metal dura muito, daí ninguém compra mais. A próxima será feita de cristal, pois além de mais caro, corre o risco de quebrar e aumentarão os meus lucros. Com esse cajado você vai poder abrir os mares que surgirem na sua frente. Mas tome cuidado! Os mares que esse cajado abre não são aqueles com água salgada. Se alguém morrer tentando atravessar a praia de Copacabana a culpa não será da minha lojinha. A pedido da minha esposa que nasceu no nordeste do Brasil, concentrarei minhas vendas por lá, pois sempre que faltar água, basta ferir alguma pedra com ele e ter muita fé. Se a água não brotar da rocha, a culpa é sua que não teve fé. Uma coisa é certa: esse cajado vai encher a minha piscina de água.

Bandeira Jeová Nissi – É uma bandeirinha pequena com uma frase de efeito no meio. Ainda está em fase de produção. Estou pensando em escrever a seguinte frase: “Eu decreto a minha vitória”. Toda vez que você estiver diante dum problema, é só você agitar a bandeirinha que sua vitória será garantida. Ela só não funciona contra o bicho papão.

Arca do Conserto – A original era escrita com C, mas a minha é com S por dois motivos. Primeiro a original já está ultrapassada mesmo, pois Jesus Cristo inaugurou uma nova época na história da revelação de Deus para o homem. Segundo, concerto está ligado a apresentação de música e sempre que essa arca for evocada, nos cultos ou em casa, deverá ser feita com muito louvor, de preferência, aqueles mantras gospel repetitivos. Com essa arca você vai poder trazer sempre a glória de Deus para perto, onde quer que você esteja. Mas de novo eu digo, se a glória de Deus não chegar, a culpa é sua que não teve fé.

Manual dos caçadores – Este livro ensinará a você como caçar deus. Depois de caçá-lo, você aprenderá como aprisioná-lo, mas isso será ensinado no segundo volume da série. Se eu mostrar tudo no primeiro, perde a graça (e o lucro também). Depois de prender deus você poderá fazer dele o que quiser. Pode decretar, exigir o que é seu por direito e outras coisas mais. Ah! Esqueci de falar. O nome deus está escrito assim em minúscula pois é só esse deus que você vai conseguir caçar depois de ler o meu livro. Estão dizendo por aí que quem caça Deus é por que ainda não foi alcançado pela graça, mas eu não me preocupo com isso.

Estou pensando em outros produtos para comercializar na minha lojinha. Por enquanto você pode fazer seus pedidos escrevendo para: Loja dos horrores – Rua da soberba Religiosa, 66, Bairro dos perdidos que não foram achados, Cidade dos Prazeres (os meus é claro).

... Fim do anúncio da lojinha ...

Voltando pra minha realidade, só posso pensar: Seria cômico, se não fosse trágico, mas essa é a realidade de algumas “igrejas”. Vende-se de tudo em nome de Deus, criando uma atmosfera mística onde o povo é levado a gastar o seu dinheiro com aquilo que não é pão e dentro do lugar que deveria ensinar o contrário disso. Há ainda uma infinidade de “produtos” que são comercializados por aí. Pior que esses, que se pode tocar, são aqueles que estão na esfera das idéias.

Tenho saudades de Jesus entrando no templo e derrubando as bancas dos mercadores. Nós, como igreja, somos os representantes de Jesus na terra. Derrubar a banca dos vendedores modernos é nosso dever.

30.10.05

Igreja – Organismo e (des) organização.

Estamos vivendo uma época de dificuldades nas nossas igrejas. As escrituras sagradas há muito já perderam seu lugar de supremacia. Há uma chuva de visões, sonhos e novas revelações que contradizem totalmente o modelo bíblico de revelação de Deus aos homens. “Está consumado” e “quem adicionar um til a esta palavra” parece ser uma colocação desnecessária para certos lideres da igreja atual.

Vive-se uma fase de novas idéias, projetos, ministérios, sem, contudo trazer os mesmos para o centro da Palavra de Deus. Quando se usa o texto sagrado, tem-se o verdadeiro sentido de usar alguma coisa, manipulando o texto de forma a dominar o povo que deseja seguir uma religião de retorno para Deus e não de sacrifícios tolos. Preferindo viver sob revelações de seus profetas modernos e mesmo de anjos (como se fosse possível), a igreja atual segue revivendo a forma fétida de séculos atrás.

Não querendo fechar questão sobre o assunto, penso que um dos motivos para esse estado de coisas seja a falta de honra para o ensino nas igrejas. Vivemos no século 21 com um ensino ultrapassado de literaturas que já não apresentam conteúdo pratico, se não para quem as vende. Alem disso, o modelo de escola de ensino (no caso da igreja que participo – Escola Dominical) é o mesmo de 30 ou 40 anos atrás, isso porque estou sendo bem tolerante. É o velho esqueminha de orar, cantar um ou dois hinos, orar de novo, ler o texto base para a lição e dividir o povo em classes. Depois de 1 hora ou pouco mais que isso, as classes retornam para o templo para assistir ao encerramento da escola. Patético, tendo em vista que o aproveitamento de cada classe é suprimido e o tempo que se segue após o tal retorno das classes para o templo é, na sua gigantesca maioria, utilizado pra tudo, menos para o ensino, sempre com a justificativa de que a escola tem que ser encerrada no horário certo. O interessante é que é comum que todos as outras reuniões extrapolem em seu horário de termino. Abro aqui um parêntese: aos membros da mesma comunidade que eu, vai aqui um aviso. Não me digam que essas idéias devem ser passadas para a liderança da igreja. As mesmas já foram muito bem passadas e muito bem ignoradas ao longo de aproximadamente 14 anos. Fecha parênteses.

Ainda na esfera do ensino, já não se ouve mais falar daquilo que é realmente interessante. Soberania de Deus? Que nada. Você tem que decretar e ele vem correndo como um serventezinho te atender. Afinal de contas, você “foi chamado por cabeça e não por cauda”. Foi chamado para “reinar em vida”. Doença? Você não deve aceitar, afinal de contas você é salvo e ser salvo significar perder a condição humana passando para um estágio de super-homem que não fica doente de forma alguma, a menos que você esteja em muito pecado. Você é pobre? Dificuldades financeiras? Porque você quer, pois Deus quer que você seja próspero, e te dá liberdade de exigir isso quando você o compra mensalmente com seus dízimos. Dói ouvir tanta besteira. A graça é suficiente? Nada disso, nem tão pouco o sacrifício. Viva ainda sob o peso de leis que sequer são bíblicas mas extra-bíblicas.

Com base em alguns argumentos de pseudo-santidade coloca-se o mundo num maligno mais poderoso que a própria bíblia descreve. Esquecem que quem domina tudo mesmo é o Senhor, inclusive este mundo que jaz no maligno.
Já não se ensina viver uma vitória definitiva em cristo, mas a viver em constante processo de libertações como se fosse necessário ao salvo sessões extras de libertação em alguns encontros específicos para esse fim. Deve ser por este conceito podre de poder do diabo sobre tudo e todos que boa parte das igrejas pentecostais e neopentecostais precisem amarrar todo o mal antes do culto começar. Abram a porta! Jesus está cansando-se de tanto bater. Coloquem Jesus para dentro dos cultos e nada disso será necessário.

Não fosse suficiente toda essa gama de aberrações contra o verdadeiro conhecimento bíblico, há ainda os que pregam que, mesmo que você seja salvo, tem que buscar no seu passado as maldições que ainda pesam sobre você, fazendo de Cristo um impotente e fazendo da Escritura sagrada mentirosa quando ela afirma “se alguém está em Cristo, é nova Criatura, as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”.

Manipulando os fiéis, a liderança da igreja usa textos para impor medo fazendo com que se tenha medo de expor o erro quando esse acontece na esfera dos pastores, bispos e outros mais. Não tocar no ungido do senhor não é a mesma coisa de não questionar o ungido, principalmente se essa unção é questionável pelas suas atitudes mercantilistas, gananciosas e interesseiras. Nesse caso, deve não só tocar, mas expor o erro para a igreja não continue sendo enganada e retirar o mesmo da posição que ocupa, a fim de não enganar mais ninguém. Manipulam ainda através do conceito de dízimos e ofertas, afirmando que se não o fiel não entregar o dízimo é ladrão. Esquecem-se que a bíblia afirma que devemos contribuir segundo propôs nosso coração. Em outras palavras é uma relação entre eu e Deus e não entre eu e o Pastor da igreja.

Finalizando, não posso deixar de falar da idolatria feita a pastores, cantores, pregadores, adoradores, levitas, “avivadores” e outros dessa mesma linha. Pastores que só pregam por dinheiro e muito dinheiro e sempre trazem textos que dizem que o trabalhador é digno de seu salário, já estão fazendo parte do câncer moderno da igreja. Esquecem-se de que o ministério pastoral sempre foi um dom de Deus e não um título ou profissão.

O que dizer então do império do louvor que já se estabeleceu em nossas igrejas. Se você não louvar como determinado ministério de louvor, seu louvor não tem unção. Como se a unção fosse dada por nós e não por Deus. Seminários que se arvoram de meios para se ensinar o louvor, como se fosse possível ensinar. O que Deus precisa é de adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Basta-nos este ensinamento e joguemos no lixo todo o resto.

É deprimente a onda de louvores-mantras com repetições intermináveis e em sua grande maioria falando do próprio eu, eliminando assim a centralização da pessoa de Deus. Vergonhoso é saber que você é discriminado por não levantar a mão, bater palmas ficar de pé, fechar os olhos, pular, dançar, falar qualquer coisa para o irmão do lado a mando do animador do culto. Isso é adoração espontânea? É isso que é ser adorador extravagante? É isso que é uma adoração com unção? A unção, repito, vem do Senhor e alcança o crente quando ele é salvo. Unção nunca vem por essas atitudes, no mínimo infantis.

Levitas? Que classe é essa? Ainda existe? Estamos na antiga aliança ainda? Os levitas da antiga aliança só cantavam e tocavam? Os de hoje (se é que existem) só sabem fazer isso. Talvez por que não estudem muito bem a palavra e veja o verdadeiro significado da função. Não há hoje uma classe superior chamada levitas, como se quer pensar. Não há levitas entre nós hoje.

A igreja organização deteriora-se a cada dia e fede na sua própria putrefação. Abracemos à igreja organismo, corpo vivo de Jesus Cristo, essa sim, imaculada e sem rugas e isenta de todas essas mazelas.

29.5.05

Cristianismo: uma vida de prática.

Uma vez Jesus disse:“quem ouve as minhas palavras e as põe em prática, eu o assemelho ao homem prudente que constrói sua casa sobre a rocha”.

Refletindo nessas palavras do Cristo, comecei a me inquietar com aquilo que chamamos de cristianismo. Uma rápida pesquisa entre aqueles que simpatizam com Jesus Cristo e todos responderão que Cristão é aquele que segue os ensinamentos do Cristo. Penso que essa resposta é extremamente vaga, principalmente pelo fato de que as pessoas religiosas de nossa época tendem a encontrar ensinos de Jesus onde eles inexistem. Na realidade, vivemos em uma sociedade religiosa onde os nossos conceitos de certo e errado é superior aos conceitos expostos pelo filho de Deus. Além disso, estipulamos nossa linha de pensamento e ensino e fazemos uma classificação das pessoas em bom, mal, certo e errado de acordo com a forma em que elas recebem e cumprem o nosso ensinamento e não os do Cristo.Esquecemos com essa atitude que o prudente é aquele que ouve as palavras de Jesus, e não as minhas e as põe em prática.

O que penso que Jesus quis dizer quando falou de prática, é que não existe cristianismo conceitual. A única forma possível de se entender cristianismo autentico é quando colocamos em prática aquilo que é conceito. No contexto do que Jesus disse sobre praticar o que ele ensinava, encontramos uma advertência aos que vivem dizendo “Senhor, Senhor” achando que com um tratamento desse tipo estariam garantindo uma vaga no reino de Jesus. Hoje ainda é assim. Muitos pensam que por que falam o tempo todo da suposta intimidade que tem com o Mestre já estão garantidos no contexto da salvação de uma ira futura. É o velho puxa-saquismo espiritual que tenta através de palavras soltas ao vento mostrar pra Jesus: “olha, Jesus, como eu te trato com distinção! Você não me deixar fora dessa, não é?”. Ou então “Olha, Jesus quantas pessoas eu curei, libertei e quantas profecias eu fiz em teu nome. Meu espaçozinho no teu reino é certo, não é?”

Resta a esse tipo de pessoa a frustração de saber que o Cristo era um homem experimentado em dores e pouco se importa se o chamam de rei ou de servo. Resta-lhes ainda a tristeza em saber que o que garante uma vida no reino de Jesus não é um tratamento lisonjeio, mas cumprir a vontade do Pai que está nos céus. Também não é o que eu faço no âmbito dos grandes milagres que fazem a diferença. As vezes é mais difícil para esse tipo de cristão conceitual, se compadecer do próximo do que curar, libertar ou profetizar em nome de Jesus.

Cristianismo prático é aquele que é exercido entre pessoas e não em conceitos. Se conceitos formassem alguma coisa em alguém, não seria preciso que médicos, advogados, professores, e tantos outros profissionais passassem pela experiência de por em prática o que lhes foi ensinado. Um excelente cirurgião é excelente pela prática que possui e não pelos conceitos sobre o corpo humano que estão arquivados na sua memória.

O cristão é cristão em todo sentido que a palavra pode ter quando sai da esfera do conceito e se lança na prática do cristianismo que foi sintetizado por Jesus em “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”

Há então, uma decisão que precisa ser tomada por aqueles que querem realmente viver um cristianismo de práticas: ou eu ouço as palavras do mestre e as ponho em prática e sou considerado prudente, ou eu ouço e não as pratico e sou considerado insensato e um mero construtor de casas que só servem para desabar.

A escolha sempre será nossa assim como as conseqüências dela.

26.5.05

Vergonhosamente vivendo a mesma história

Por orientação do Mestre José Magalhães, da faculdade de Teologia, assistimos um filme que contava a história de Martin Lutero. Não era o filme atual recentemente lançado no mercado, mas um mais antigo. A história, porém era a mesma. Este mesmo mestre solicitou que fizéssemos uma crítica do filme. O texto que aqui se segue é a minha crítica que faço do filme relacionando o mesmo com a história da igreja atual.

Só para orientação dos leitores deste blog, que não estão familiarizados com a história da igreja e a história da reforma protestante enumero a grosso modo o que se segue.

1. Jesus Cristo edificou uma só igreja. A pluralidade de igreja que se tem hoje é fruto da nossa incompetência de gerir o que o mestre havia deixado: a unidade do seu corpo.

2. Com o passar dos anos, aquela pequena igreja fundada por Jesus, cresceu e desviou-se do propósito principal do mestre. “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” já não eram pontos importantes na igreja que crescia. Basta dar uma olhada básica nos livros de história e verificar essa realidade.

3. A partir do imperador romano Constantino, o cristianismo passa ser a religião oficial do império.

4. Instigado pelo Papa Leão X, Johann Tetzel começa a vender perdão de pecados (indulgências) para pessoas que estavam vivas, podendo essas comprar para seus queridos que já haviam morrido. As indulgências eram um dos meios utilizados pela igreja para angariar fundos para construção da basílica de São Pedro, em Roma.

5. Em 1517, Matin Lutero, monge agostiniano, publica 95 teses que feriam frontalmente os conceitos de Tetzel, do Papa e expunha este à realidade de que era incompetente para perdoar os pecados dos homens. Dessas 95 teses, surgiu o que conhecemos hoje como igreja protestante, ou reforma protestante.

Assistindo a história contata no filme, fui levado a questionar não aquele momento, pois já é história, mas o momento atual da igreja. É claramente perceptível que muito pouco mudou, e arriscaria dizer que muita coisa piorou de lá pra cá. Assim como se dizia que ao tilintar de moedas nos cofres da igreja, uma alma era liberta do purgatório, hoje, os líderes evangélicos, em sua maioria, que negam o dogma do purgatório passam pela mesma vergonha de valorizar muito mais o que a pessoa tem no lugar de valorizar a pessoa em si. No lugar de um documento que livrava a alma do pagante de todos os pecados (ou de quase todos, dependendo do valor pago), hoje se exibe outros tipos de artifícios para coletar dos fiéis o número máximo de valor monetário. Estamos vivendo dias de um verdadeiro mercado onde a mercadoria principal chama-se graça.(com letra minúscula para diferenciar da Graça de Cristo)

Uma passada rápida pelas principais denominações, e cada qual ao seu modo, relaciona a quantidade de moedas tilintando nos cofres da igreja com a paz e a prosperidade que Deus pode dar a quem dá a Ele primeiro. É uma desvirtuação total do que diz a oração atribuída a São Francisco “pois é dando que se recebe”, esquecendo os mercadores das indulgências modernas de que a referida oração está tratando do relacionamento interpessoal e não de bens materiais. “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna.” Esquecem os modernos vendedores de indulgências que o mais importante e fundamental da Graça de Cristo é que ela é exatamente isso: de graça. Se faço parte de uma associação, é claro que vou contribuir com o desenvolvimento financeiro dela, mas daí a pensar que sou mais abençoado a medida que dou mais, existe um abismo gigantesco. Nessa perspectiva, pessoas são diariamente trituradas, torturadas, espancadas em suas consciências por não poderem dar mais e são constantemente taxadas de homens de fé débil.

É de uma incoerência total criticar a igreja antes da reforma e elogiar a igreja que surgiu com a reforma protestante se o que vivemos agora é a mais pura, se não pior, expressão da realidade daquela época instauradas nos nossos dias.

O que fazer então? Aguardar o próximo Lutero e esperar sua reforma?

Esse próximo Lutero não virá nunca. Está nas mãos daqueles que compreendem a Graça de Cristo como algo realmente oferecido sem custas ao homem, fazer esta mudança, sem querer ter a pretensão de uma nova reforma religiosa. De reforma religiosas já estamos fartos e com ânsia de vômito. Não precisamos que se reforme a religião, mas que se transforme os corações, libertando-os do jugo de homens enganadores, vendedores de toda espécie de bugigangas espirituais.

Precisamos nos libertar dos famosos “compre o meu livro e você terá sua vida transformada”, “compre meu cd e seu louvor será um cântico novo”, “compre minha apostila e você será um homem de Deus aprovado”.

Basta! Não compremos falsas idéias e joguemos o que não presta fora! Despojemo-nos de toda sorte de mesquinharia pseudo-evangélica pra viver o que o verdadeiro evangelho é: vida com Cristo e vida em Graça e de graça.

O ser humano não estás a venda. Já fomos comprados por um alto preço. Não precisamos mais pagar por nada, nem por nossos pecados. Todos eles foram pagos na morte do Filho.

Vivamos então o que é fundamental na vida com Cristo: sua Graça nos basta.

14.5.05

Sobre o meu deus e Deus

Durante toda a minha vida construí um deus particular. Ele estava presente em todos os momentos vividos por mim, fossem eles alegres ou tristes. Talvez, influenciado pela maneira como meus pais viam Deus, construí um deus que fosse particularizado por mim.

Na pretensão de um deus particular, me vi preso a um deus que não me era suficiente. As festas eram parciais e com alegrias momentâneas. Paradoxalmente ao que se espera de Deus, o meu deus não conseguia satisfazer-me naquilo que eu desejava. Sequer conseguia me fazer feliz.

Como na minha concepção, Deus é um ser supremo, todo poderoso e que tem controle de todas as coisas, tive que achar um culpado para o fato de que o meu deus fosse tão incompetente em me realizar nos meus desejos mais simples. Não conseguia, por mais que tentasse, culpar meus pais, pois eles eram felizes com o Deus que eles confessavam. Não podia culpar meus líderes religiosos, pois eles também pareciam felizes. Alguém tinha que ser culpado, então descobri que o culpado era eu. Isentando o meu deus de toda a culpa, bati o martelo da minha consciência de religioso e me encarcerei na realidade que se descortinava tão cruenta à minha frente. A culpa sempre foi minha. O meu deus era perfeito demais para ser culpado e além de tudo, ela era deus.

Pensei que, ao admitir minha culpa, o meu deus me traria de volta a perspectiva que havia perdido e me traria a alegria de confessá-lo como Deus assim como fora feito por meus pais. Mas o meu deus não cumpriu o seu papel. Continuei lamentando-me naquilo que mais me incomodava: se não consigo ser satisfeito com o meu deus, de que me serve tê-lo então?

Voltei meus olhos para a sua palavra, a bíblia. Julguei ter nela a vida eterna. Vi pessoas que sofriam por Deus, morriam por Deus e viviam por Deus para depois serem recompensadas por Deus. Vi pessoas que confessavam que tudo era de Deus, por Deus e para Deus. Mas notei a real diferença do meu deus para o Deus que encontrei em sua palavra, quando pude ver o filho dizendo ao pai: “Deus meu, porque me desamparaste?” Foi vendo o desamparo do filho, que percebi o quanto eu estava desamparado, pois se Ele, o filho se sentia desamparado, o que diria eu?

Vi, então, que o filho tratava Deus não como propriedade de seus prazeres, mas como finalidade de sua vida, mesmo que isso significasse total desamparo. Percebi que o meu deus é quem era impotente e o Deus meu, poderoso em todas as suas ações, mesmo que o seu desejo fosse deixar-me momentaneamente em situações onde a única coisa que me coubesse era clamar por Ele.

Houve o encontro e houve a festa! Ousei chamá-lo de Pai e entendendo-o como Pai, fui entendido por Ele. Hoje a festa é constante e duradoura. Hoje não tenho mais nenhum deus, mas sei o quanto Deus me tem a mim.

4.3.05

Os homens e seus sofrimentos

Amigos da turma e amigos leitores. Esse texto não é nenhuma consideração de matérias da faculdade. Acho que o objetivo dele é somente considerar sobre a vida, sobre mim mesmo.

Este reinício tem sido um tanto quanto traumático pra mim. Vocês partilharam dos mesmos problemas administrativos da faculdade e sabem que isso foi (e ainda é) muito chato.

Aliado a isso, tive perdas irreparáveis no começo do ano e isso dói. Aliás dor é algo que, infelizmente nossa sociedade pseudo-religiosa trata como se fosse coisa de outro mundo. A maioria de nós mesmos nos descreve de uma forma tão absurda que ao invés de sermos vistos como homens que sofrem, mas parece que deveríamos usar aquela roupa ridícula de Super-Homem.

Estou me questionando os porquês disso tudo. Por que não se pode sofrer, chorar, angustiar-se, deprimir-se?

Somos sempre levados a pensar que o Eterno resolve todos os nossos problemas, que está sempre conosco, que nos dá a mão quando precisamos e todas estas coisas que vocês conhecem de sobra.

Na maioria das vezes não nos é permitido ser aquilo que considero ser o que de melhor nós temos: Falíveis.

Temos que acertar sempre; não podemos nos deixar cair em tentação; não podemos viver uma vida simples como qualquer mortal porque sempre haverá um a apontar as falhas.

Homens sofrem, sentem dores, falham, se corrompem e esta realidade não tem como ser simplesmente apagada. Nunca vi o Filho negando esta realidade tão presente na humanidade.

Acho que estou meio melancólico, mas é o que sinto e não vou ficar me vestindo de uma persona que mostra para o meu exterior que tudo vai bem quando não é isso que vejo.

A esperança é só uma: que Ele, o Eterno, continue nos vendo da forma que Ele sempre viu: somos falhos e não sabemos o que fazemos.

Que Ele continue sempre nos permitindo sofrer, chorar, inquietar e sobre tudo ser o que mais sabemos ser: seres humanos.