Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

5.5.10

Comendo migalhas e recebendo tudo o que se precisa.

"E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores." Evangelho segundo escreveu Mateus

Quando paro para pensar no tipo de evangelho pregado numa grande parte das igrejas hoje, fico pensando se esse evangelho entenderia o que se passou com esta mulher. A resposta, evidentemente é: Jamais!

O evangelho minúsculo que se prega não é o evangelho de Jesus. Nunca foi. Nunca será. O que se prega hoje é fruto de uma desesperada tentativa de transformar o que é no que nunca será.

No texto de Mateus, encontramos uma mulher que está em total carência, clamando por misericórdia, pois sua filha encontrava-se “miseravelmente endemoninhada”. Ela não clama por bens, não decreta vitórias, não pensa no material, pois pra ela, o significado da vida era ter a vida de sua filha de volta. Como pode alguém pensar em algo mais valioso que a vida?

Os pregadores da prosperidade não enxergam o que aquela mulher enxergou. Seus olhos enxergam o lucro e este, nestas igrejas é fácil de se aferir. Qualquer empreendedor, seja ele um vendedor de balas no sinal de transito ou um grande empresário (honesto) passa por um processo idêntico para aferir lucro. Em conceitos bem básicos, ele tem que comprar a mercadoria, idealizar uma margem segura para vender essa mercadoria de modo que atenda a todos os detalhes que regem o seu empreendimento, vender a mercadoria e ter certeza de que seu cliente ficou satisfeito.

Nas igrejas “prosperidadélicas” (não há como chamá-las de evangélicas, pois de fato não são), vende-se uma mercadoria que nunca foi comprada, pois de graça receberam aquilo que de graça jamais entregaram e jamais entregarão. Além disso, recebem por uma mercadoria que não precisam entregar na hora em que recebem o dinheiro da venda. Finalmente, não precisam preocupar-se com a satisfação do cliente, pois se ele não for satisfeito, a culpa é exclusivamente dele. Jargões do tipo “você não teve fé”, “não chegou ainda o tempo de Deus”, “você ainda tem que pagar o preço”, “ainda falta plantar a semente”, são usados para justificar a falta de entrega de uma mercadoria vendida e que nunca será efetivamente entregue.
Os prosperidadélicos transformam Criador em criatura; Senhor em escravo. Para eles, Deus é um garçom que está sempre com a bandeja pronta para servir no exato momento em que eles determinarem.

A mulher queria comer, mais que isso, precisava comer daquilo que Jesus tinha para oferecer. Em nenhum momento ela transformou Jesus, o Senhor em seu servo. Ela precisava de comida, mas não transformou Jesus no garçom que lhe serviria. Precisava de pão, mas se contentou com migalhas. Admitindo ficar só com as migalhas, recebeu alimento completo e teve sua fé assinalada pra sempre na história bíblica.

Aos que querem fazer do Senhor escravo, restará o juízo do justo Juiz, que não se deixa dominar por quem não tem capacidade sequer de se dominar a si mesmo. Ele, o Senhor, não se deixará ser transformado naquilo que Ele não é, porque Ele É o que É.

A ele, que Serve por que é Senhor e não por que é mandado servir, toda glória de ser Senhor, mesmo servindo aos que são verdadeiramente servos.