Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

12.6.09

A festa que não tive e o presente do Rei

"Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração. Eclesiastes 7.2"

Neste ano, por ocasião do meu aniversário, pensei em fazer uma festa. Cheguei a falar com minha filha para que ela arranjasse uma banda no desejo de fazer uma festa com música ao vivo. Por alguns motivos que não são importantes, a sonhada festa não aconteceu.

Normalmente, quando não se consegue festejar, bate uma frustração. Fazer festa, comemorar com amigos, cantar, rir, fazer pedidos, tudo isso é algo que nos causa muito bem. Numa festa de aniversário reunimos as pessoas que são mais próximas. Elas farão parte de um momento da nossa história onde, por algumas horas nos esquecemos de tudo que é negativo e só pensamos em alegria e festejos.

Nos preparamos para a festa. Verificamos todos os detalhes e cuidamos para que nada seja esquecido. Bebidas e comidas são elaboradas, enfeites são pensados, lembranças são criadas. Detalhamos tudo na expectativa de que tudo saia certo e que todos sejam e estejam alegres.

Apesar de todo o trabalho que uma festa dá, não há nada que consuma mais o nosso tempo que a lista de convidados. Incluímos e excluímos várias pessoas, várias vezes. Na minha "quase-festa" comecei, desisti, recomecei a fazer uma lista de convidados e no fim sempre tinha dúvidas de quem deveria ser chamado ou excluído.

Pessoas que estudaram comigo. Pessoas que estudaram ou estudam com meus filhos. Amigos de perto e de longe. Irmãos de sangue e pelo sangue. Colegas de trabalho. Parentes e parentes de parentes. A lista é grande. A festa seria maior ainda.

Tem gente que viria por nunca mais ter me visto e por isso, matariam a saudade. Outros viriam por sua amizade. Outros pra saber o que uma pessoa de 42 anos tem pra comemorar nesse mundo complicado.

Há os que me aceitam como sou e por isso festejariam. Esses comeriam da minha comida, beberiam da minha bebida e festejariam a minha festa.

Há os que adorariam que eu fosse como eles e que também viriam, pois seria mais uma oportunidade de tentar me mudar. Esses últimos, comeriam da minha comida, beberiam da minha bebida, mas provavelmente não festejariam a minha festa.

A festa, como disse, não existiu. Sem festa, não há presentes, mas contraditóriamente, recebi de um rei um grande presente.

O que Salomão me ensinou me fez pensar bastante. Não foi um pensamento retrospectivo, mas pensei acerca do presente e do que pode ser o futuro.

Pensei na nossa total falta de preocupação com o evento denominado MORTE. Para nossos enterros, não há planejamento. Não há bebida, nem comida. Não há lista de convidados e não enviamos convites. Mas é sem dúvida nesse evento que realmente percebemos a realidade da nossa vida: Ela tem um fim.

No fim da nossa vida, mesmo sem que haja convite, estarão diante de nosso corpo sem vida, vários tipos de pessoas. Provavelmente, nem todos serão amigos, parentes, amados.

Os que amam, sentirão a perda e sequer terão vontade de comer ou beber. Não haverá festa, não haverá canto.

Aos que me amam, entendam que a minha percepção deste momento, absorvida daquilo que o Rei Salomão falou, não chega ao coração com tristeza. Talvez chegue com preocupação pelos que ficarão, pelos que serão açoitados pela dor da saudade. Sobretudo, essa percepção chega com a certeza de que ao chegar a nossa hora, temos que estar prontos para econtrarmos com o Pai.

O ensino do Rei Salomão é um tanto duro de se aprender. Ele provavelmente teve que observar mortes após mortes até chegar nesta conclusão.

Deixo um convite. Não é para a minha próxima festa. Também não é para o meu derradeiro evento. Convido a aprender com o Rei e como o Rei. Convido a tirar suas próprias conclusões sobre a festa que a vida é.

Em Deus, que nos deu o Filho e que nos fez no filho, vencedores sobre a morte.

Ronildo Brites