Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

11.11.06

Quero ser como Laodicéia.

"Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono." Apocalipse de João 3.21

Em algumas situações, nós que somos crentes em Jesus Cristo, temos o defeito de criticar as pessoas que estão fracas na fé, que se sentem frias e apáticas. Chegamos ao cúmulo de determinar, em alguns casos que não há mais chance para elas. Criamos um padrão de santidade, de conduta e o classificamos como sendo O padrão. Nessa busca por um padrão de vida que na maioria das vezes satisfaz mais a criatura que o criador, não são poucas as vezes em que atropelamos com nossos conceitos e pré conceitos pessoas que precisam de nossas mãos estendidas.

Quero pensar um pouco sobre as cartas registradas no Apocalipse de João, mas especificamente na carta escrita à igreja em Laodicéia.

Quando aprendemos o significado histórico-profético dessas cartas, fazemos logo nossas escolhas. Queremos ser Esmirna, ou Filadélfia. Sobre essas duas igrejas não coube o peso de uma condenação do Mestre. Dentre todas, ninguém quer ser Laodicéia e só lembramos dela invariavelmente quando temos que classificar uma igreja que já não caminha mais como deveria ou um irmão que falha.

Há, entretanto algumas coisas que ignoramos em Laodicéia e que acho interessante pensar aqui.

Mesmo que ela não tenha elogios e tenha recebido condenações do Mestre, percebo nitidamente o cuidado de quem tem tudo sob a sua visão e controle. Percebo que o Mestre tem um cuidado com esta igreja ainda que incisivamente Ele se sente a ponto de vomitá-la de sua boca.

Jesus usa o conceito de água morna, pois sabia que isso seria facilmente entendido pelos leitores da carta. A cidade não possuía boas fontes de água potável e trazia de duas cidades vizinhas as suas águas. O grande problema é que numa cidade havia água fria, em outra havia água quente. Do resultado dessas duas qualidades de água, e mais a associação de dutos antigos surgia a água que Laodicéia bebia: Morna.

Isso me leva a pensar que quando nós criamos um padrão de conduta e santidade e decretamos que quem não se encontra nesse padrão não tem mais chance, acabamos por nos situar exatamente na posição de Laodicéia. Falamos que amamos (quente), entretanto julgamos (frio). Falamos que somos servos prontos a servir (quente), mas agimos somente com a língua (frio). Essa atitude, ao contrário de nos fazer Esmirna ou Filadélfia, nos faz Laodicéia.

Um outro aspecto abordado pelo Mestre refere-se à falsa sensação de poder de Laodicéia. Sentiam-se ricos e poderosos. Possuíam muitas minas de ouro. Produziam um remédio muito eficaz para doenças oculares e auditivas, mas na perspectiva Divina eram infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus e o pior disso tudo é que eles não sabiam disso.

O Mestre, que no quadro anterior, somente sente vontade de vomitar, neste já apresenta algumas soluções. E são exatamente essas soluções apresentadas pelo mestre que me levantam algumas questões? Se a situação era a tão ruim, por que o interesse em apresentar soluções? Se já estava dando nojo por suas atitudes, por que dispensar algum tipo de cuidado? A resposta está no fato de que a repreensão estava destinada aquela de quem se tinha amor. Nosso senso de justiça, nosso padrão de conduta diria: “não tem mais alternativas, não tem mais retorno”, o Mestre diz: “eu repreendo por amor, arrependa-se”.

Em um terceiro momento, o Mestre identifica-se como alguém que não está no meio da igreja. Ele se declara impedido de entrar em sua própria igreja. “... estou a porta e bato...”. Quem não conhece intimamente o Mestre, diria que Ele é fraco, pois sendo Deus, não consegue entrar em Laodicéia. Longe de ser fraco Ele demonstra cuidado e carinho. Não invade, bate a porta. Aguarda que alguém abra a porta e comece a ceia.

Mesmo que não tenha recebido nenhum elogio e que tenha sido duramente repreendida, Laodicéia recebe uma promessa totalmente diferente das proferidas as outras igrejas. A Laodicéia é dito: se você vencer, vou fazer com você o que Deus fez comigo. Se você vencer, assim como eu venci, eu te colocarei assentado no meu trono, assim como eu venci e fui colocado no trono de Deus.

O Mestre nos convida a sermos fiéis e é exatamente isso que Ele espera de nós. Mas Ele mesmo sabe, por ser um homem experimentado em dores, que teremos nossas falhas, nossos deslizes e que somos carentes de sua repreensão por sermos carentes de seu amor. Ele sabe que nossas riquezas, nosso poder são efêmeros. Ele sabe também, que em determinadas situações nem percebemos o quanto somos Laodicéia, mesmo que pensemos ser Esmirna ou Filadélfia. No convite do mestre de comprar ouro de melhor qualidade - eterno, vestiduras brancas - celestiais e colírio - visão de Deus, está inserido o desejo de que nossa porta seja aberta. E quando Ele entrar, a festa começará e nunca mais terá fim.

Já me decidi. Quero ser como Laodicéia. Não há como negar minhas imperfeições. Não há como negar meus erros. Não há como negar diante de quem sabe todas as coisas as minhas carências. Mas quero ser a Laodicéia que reconhece, muda de valores, enxerga melhor e abre a porta. Quero, no fim de tudo saber que abrindo a porta ao Mestre numa atitude de arrependimento, o trono do Mestre será o meu trono também.

13.8.06

Trilhando o caminho contrário.

Independente da teologia que se segue e seja lá qual seja a forma e história que se conta a cerca das origens de satanás, uma coisa que é ponto de concordância em praticamente toda a cristandade é o fato de que o diabo é um ser que caiu da presença de Deus e que antes era um anjo de luz. Ainda que se discorde de como foi a queda, quais foram os motivos e quais foram as punições é certo que ele caiu. Raciocínio lógico e rápido, se ele caiu é porque antes tinha um status de quem estava bem perto de Deus.

Em cima desse conceito foram construídos pensamentos teológicos, religiosos, discussões, as mais acaloradas e tantas outras coisas que não cabe aqui nesse texto. Muitas lendas também foram criadas para contar a história de lúcifer, satanás, diabo, demo e tantos outros nomes que povoam o folclore e as igrejas.

A origem de satanás é o que menos importa para esse momento, nesse texto. Quero me ater ao seu erro que motivou sua queda, porém, seguindo o racicíonio que virou senso comum, poderíamos definir que essa personagem opositora das coisas de Deus, tinha uma posição abaixo do criador, porém elevada e que por falta de humildade, quis ocupar posições que não eram dele e por sua falta de humildade e seu orgulho foi precipitado no abismo carregando consigo uma parte dos anjos.

A pergunta é: O que a história da queda de satanás tem a ver com trilhar o caminho contrário?

Independente da forma como lhe apresentaram essa personagem opositora de Deus, com certeza a história de que ele era um anjo da mais alta patente e que perdeu tudo por conta do seu orgulho é a que mais se comenta e publica. Por que ser somente um anjo de alta patente quando se pode ser Deus? E num retorno aos princípios, por que ser homem, quando se pode ouvir o convite da serpente e ser um deus?

Quando lemos o Gênesis e encontramos o diálogo da serpente com o ser humano, representado por Eva, percebemos que o convite era esse: coma e seja deus também. A partir desse convite, a humanidade tenta o tempo todo ocupar posições de poder e infelizmente essa sede de poder invade de forma desastrosa as igrejas dos nossos dias.

Lembro-me dos meus tempos de adolescentes (23 anos não é muito tempo assim) em que eu não conhecia outro cargo "máximo" nas igrejas evangélicas a não ser o de pastor. Coloco o máximo entre aspas, pois naquela época uma maioria esmagadora não achava o máximo ser pastor. Hoje, basta dar uma passeada pelas igrejas evangélicas e ver que ser pastor está fora de moda. Por que ser pastor quando se pode ser bispo, apóstolo, bispo primaz, arcanjo? O próximo passo nos levará a seguinte pergunta: Por que ser arcanjo (se esse for o nome da moda) se posso ser deus? (com letra minúscula mesmo).

Sei que ainda há, e Deus seja louvado por isso, pastores que dignificam tanto o cargo que exercem quanto o exercício desse cargo. Pastores que conhecem as suas ovelhas, que dão a vida por elas. Que por amor de uma somente, muitas vezes deixa o descanso do aprisco e vai buscar a que se perdeu e a recolhe, cura, trata e ama tal qual o exemplo de bom pastor que temos. Sem desmerecer os outros, quero destacar os que estão me pastoreando atualmente. Sei que eles não precisam nem que eu cite seus nomes, pois eles são meus exemplos, não simplesmente de pastores, mas principalmente de servos.

Todavia, me causa repulsa saber que uma grande parte dos "pastores" (já sabem o porquê das aspas, não?) se julgam superiores a todos e assumem títulos que refletem o seu desejo obsessivo e megalomaníaco de trilhar um caminho contrário. Eram homens comuns, tornaram-se "pastores" e acharam pouco. De pastores, passaram a “bispos" e ainda acharam pouco. De "bispos" passaram a apóstolos e ainda assim acharam pouco. Segue-se a megalomania e surge o bispo primaz e até onde se pode ouvir, o arcanjo. Caminham dessa forma para estarem sob o mesmo status de alguém que é opositor a Deus.

Como não posso prever o futuro (embora esse esteja claro na palavra de Deus) acredito que o próximo passo é querer ser Deus, trilhando assim o caminho contrário daquele que um dia pecou por causa da sua falta de humildade.

Nesse momento, toda minha angústia, dor, choro, nojo, repulsa por essa classe de homens que querem ser como Deus se tornará em júbilo de alegria e glorificação a Deus. Quando eles estiverem frente a frente com Deus, batendo em seus peitos estufados e orgulhosos, exigindo ser igual a Deus, o Pai os derrubará de novo e mostrará que acima Dele nunca houve e nunca haverá ninguém.

A Deus, que quando "olha pra cima" não vê ninguém acima Dele e quando "olha pra baixo" só vê seres que dependem Dele, seja dada toda a glória.

28.1.06

Crentes Turbinados – Em busca do silicone espiritual.

"...pediu-lhes cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns DO CAMINHO, quer homens, quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém" - Atos dos Apóstolos

Cia de Joel, Cia de João Batista, Geração Benjamim, Adoradores Extravagantes, levitas, Gaditas, os que têm a unção do riso, do leão, da águia, do homem, unção de nobreza, de Salomão, isso pra não falar do ano de Isaque, de Gideão, e outros tantos. Enfim, há uma infinidade de nomes e termos, muitas vezes sem significado prático algum.

Mas o que tem isso a ver com o “crentes turbinados” do título? Explico.

Semelhantemente ao que a mídia impõe hoje em dia como padrão de mulher fisicamente perfeita, ultimamente tem surgido no meio evangélico um “padrão” de crente perfeito. Não corram pra suas bíblias agora para conferir esse “padrão”, pois ele não está lá. Este padrão surgiu ao longo das últimas décadas, da mente de pessoas doentes e megalomaníacas e que nos últimos quatro ou cinco anos tem plantado raízes no meio evangélico.

Há uma discriminação preconceituosa pairando sobre aqueles que se negam a participar desse evangelho falso, hipócrita e egoísta.

Você não foi ao encontro? Não tem a unção do Riso? Não tem a unção de Gadita, ou a unção de nobreza? Não participa do ano de Isaque? Lamento muito, mas você não é um crente turbinado. Não está na moda. Não é um crente seguro. Tal como a mulher da televisão, que se sente segura por ter colocado uma enorme prótese de silicone, se você não tem esse silicone espiritual, você não é nada. Fique na moda! Encha-se de próteses espirituais. Mas lembre-se sempre: prótese é falsa e é pra quem nunca teve o verdadeiro, ou pra quem já teve e perdeu.

Esses megalomaníacos simplesmente não aceitam viver um evangelho simples onde nem os loucos erram o caminho, mas preferem dar uma complicadinha nas coisas, no intuito mal disfarçado de manter o povo na cegueira do modelo por eles estabelecido.

“... A unção do Gadita é a unção para a conquista e restauração de territórios...” diria um determinado pastor ensinando algo que fere frontalmente as Sagradas Escrituras. Não precisamos de nenhuma unção que nos garanta qualquer tipo de posse, conquista ou restauração, pois quando aceitamos o sacrifício de Jesus, e vivemos nossa vida em função da propagação de seu reino já temos garantias de receber recompensa. A diferença é que pra receber essa recompensa, não temos que nos apropriar de nada; nem territórios, nem títulos, nem unções, e sim perder, abdicar por vontade própria. “Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já no presente, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições, e no mundo por vir a vida eterna”.

A “Cia de João batista” supostamente tem a intenção de resgatar o ministério profético e o nazireado da antiga aliança. Faz-me pensar que o brado de Jesus na cruz “...está consumado” já não ecoa na igreja moderna como os brados restitui o que é meu, eu decreto, eu tomo posse. Esqueceram-se de que “havendo Deus outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos nossos pais pelos profetas, hoje nos fala em Jesus, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.

Segundo o que se pensa na "Geração de Benjamin", “Você precisa saber quem você é, para entender o que deve fazer com sua vida”. Estou equivocado ou Paulo pensa um pouco diferente quando diz: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!”(?) Creio que Paulo é quem está certo. Dele, por Ele e para Ele e não EU saber quem EU sou para EU saber o que EU devo fazer com a MINHA vida. Totalmente contrário ao conceito bíblico de “...vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim”.

Não vou me alongar (ou perder meu tempo) explicando todas as visões, unções, anos e todas a sorte de besteirol pseudo-evangélico. Basta saber que para essas tais pessoas ter um desses títulos ou uma dessas “unções”, participar de um desses anos de “fulano” parece ser mais importante que ser aquilo que Jesus nos ensinou tão bem: SERVO.

Essas unções e títulos me fazem ver que ainda há uma sede muito grande de satisfazer algo que se tentou satisfazer ainda no Édem: o próprio ego humano.

Eu, particularmente, prefiro ser conhecido simplesmente como “OS DO CAMINHO”.

À Deus seja a glória.