Seja bem-vindo

A proposta é descrever o que penso, sem o compromisso de fazer pensar como eu penso. É também um questionar de algumas situações que me cercam, me alegram, me incomodam, enfim, me descontroem e me constroem a cada dia. Pensar sem medo de fazer um auto-flagelo de idéias que devem ser maltratadas a ponto de serem expurgadas, se preciso for. Pensar e repensar no que creio e no que deixo de crer.

Se eu conseguir pensar sobre o que penso e de alguma forma multiplicar o que penso, seja para que outros pensem parecido, ou para que outros pensem exatamente o contrário do que penso, me fazendo repensar, ficarei satisfeito.

(no começo, eram reflexões sobre as aulas de Teologia no Centro Universitário Bennet)

14.5.05

Sobre o meu deus e Deus

Durante toda a minha vida construí um deus particular. Ele estava presente em todos os momentos vividos por mim, fossem eles alegres ou tristes. Talvez, influenciado pela maneira como meus pais viam Deus, construí um deus que fosse particularizado por mim.

Na pretensão de um deus particular, me vi preso a um deus que não me era suficiente. As festas eram parciais e com alegrias momentâneas. Paradoxalmente ao que se espera de Deus, o meu deus não conseguia satisfazer-me naquilo que eu desejava. Sequer conseguia me fazer feliz.

Como na minha concepção, Deus é um ser supremo, todo poderoso e que tem controle de todas as coisas, tive que achar um culpado para o fato de que o meu deus fosse tão incompetente em me realizar nos meus desejos mais simples. Não conseguia, por mais que tentasse, culpar meus pais, pois eles eram felizes com o Deus que eles confessavam. Não podia culpar meus líderes religiosos, pois eles também pareciam felizes. Alguém tinha que ser culpado, então descobri que o culpado era eu. Isentando o meu deus de toda a culpa, bati o martelo da minha consciência de religioso e me encarcerei na realidade que se descortinava tão cruenta à minha frente. A culpa sempre foi minha. O meu deus era perfeito demais para ser culpado e além de tudo, ela era deus.

Pensei que, ao admitir minha culpa, o meu deus me traria de volta a perspectiva que havia perdido e me traria a alegria de confessá-lo como Deus assim como fora feito por meus pais. Mas o meu deus não cumpriu o seu papel. Continuei lamentando-me naquilo que mais me incomodava: se não consigo ser satisfeito com o meu deus, de que me serve tê-lo então?

Voltei meus olhos para a sua palavra, a bíblia. Julguei ter nela a vida eterna. Vi pessoas que sofriam por Deus, morriam por Deus e viviam por Deus para depois serem recompensadas por Deus. Vi pessoas que confessavam que tudo era de Deus, por Deus e para Deus. Mas notei a real diferença do meu deus para o Deus que encontrei em sua palavra, quando pude ver o filho dizendo ao pai: “Deus meu, porque me desamparaste?” Foi vendo o desamparo do filho, que percebi o quanto eu estava desamparado, pois se Ele, o filho se sentia desamparado, o que diria eu?

Vi, então, que o filho tratava Deus não como propriedade de seus prazeres, mas como finalidade de sua vida, mesmo que isso significasse total desamparo. Percebi que o meu deus é quem era impotente e o Deus meu, poderoso em todas as suas ações, mesmo que o seu desejo fosse deixar-me momentaneamente em situações onde a única coisa que me coubesse era clamar por Ele.

Houve o encontro e houve a festa! Ousei chamá-lo de Pai e entendendo-o como Pai, fui entendido por Ele. Hoje a festa é constante e duradoura. Hoje não tenho mais nenhum deus, mas sei o quanto Deus me tem a mim.

Nenhum comentário: